Rei Artur e o enigma da liberdade

Recebi um e-mail contando da história de Artur da Távola Redonda quando ainda jovem. Invadiu ele um reino vizinho e foi rendido pelo rei do local, que depois de uma conversa o soltou, na condição de que em até dois anos ele conseguisse lhe responder a seguinte questão: o que as mulheres realmente querem da vida.

Retornando para o seu reino, Artur perguntou a todos que encontrou pelo caminho, desde sábios até lavandeiras e nunca conseguiu uma resposta que se fizesse cabível para a pergunta do monarca, ouviu algumas vezes que apenas a bruxa velha sabia a resposta, mas ela cobrava um preço demasiado alto e ele a refutava.

Quando estava quase na hora de vencer o tempo, pois tinha ficado acertado que no caso dele retornar sem resposta, o rei o poderia executar, ele acabou indo encontrar a bruxa, que além de velha era feia, corcunda, tinha um hálito capaz de matar um cavalo a mais de cem metros de distância e era terrivelmente repugnante em aparência.

O rei Artur fez a pergunta para a bruxa e ela disse que responderia se ele lhe concedesse a mão de Gawain, seu grande amigo. Quando Artur contou para o amigo ele aquiesceu ao pedido dizendo que era um preço demasiadamente barato pela sua vida e a sobrevivência da Távola Redonda, ficou então acertada a data do casamento.

Voltou então Artur para a Bruxa Velha e pediu que ela respondesse então à sua pergunta, e ela lhe disse: o que a mulher quer mesmo é o seu alvedrio. Artur contou para o rei e este lhe concedeu a liberdade e ele pode então voltar para a sua vida, na espera do dia do casamento do seu amigo com a bruxa conforme o prometido.

No dia do casamento, quando Gawain esperava sua noiva, ela apareceu linda, como a mais linda de todas as princesas. Ele perguntou como podia ser aquilo e ela lhe disse que durante meia parte do dia seria linda assim e que na outra parte seria horrenda como todos sabiam que era e que a escolha seria dele, somente.

Gawain pensou bastante sobre a questão e terminou por decidir que a escolha era demais para ele, pois ele teria então uma mulher linda para acompanhá-lo nos encontros com os amigos e uma horrenda durante a noite ou ao contrário, por isso disse-lhe que a escolha era dela, e que ela decidisse o que queria fazer dos seus dias.

A mulher então disse que ela seria então linda o dia inteiro, por que ele havia lhe dado a sua liberdade e que a sua beleza seria o prêmio pelo seu cavalheirismo. Desta forma eles se casaram e viveram muitos anos em total harmonia e felicidade. Este é um dos princípios mais interessantes das relações humanas. O respeito e a escolha.

Gawain apenas compreendeu que ninguém é responsável pela liberdade do outro e que seria demais para ele fazer por ela esta escolha. Aqui, no entanto existe um mistério, pois quando damos liberdade para alguém damos a partir da nossa própria liberdade, pois ninguém pode ser responsável pela vida de outra pessoa, apenas ela mesma.

Quando assumimos a nossa liberdade, assumimos a total responsabilidade com todos os aspectos dela, bons e ruins. Por isso mesmo, somente nós podemos fazer esta escolha e por isso mesmo, como viemos ao mundo com missões específicas, temos que incluí-las na nossa vida, de outra forma vamos assumir o ônus da falta no nosso destino.

Mulheres e homens têm em suas vidas o princípio daquilo que se manifesta no corpo, ninguém nasce na vida por acaso, nem de uma forma nem de outra. O homem nasceu para ser pai, a mulher para ser mãe. Os filhos precisam dos dois para poder crescer, se formar e viver as suas vidas da melhor forma possível, isso é lei e é a fortuna.

Homens e mulheres vieram para o mundo para apoiar um ao outro no trabalho específico que cada um tem e, neste trabalho está a maternidade e a paternidade de cada um, fugir desta responsabilidade é assumir para si o peso de viver a sua própria existência na eternidade com um passo inconcluso e em divida eterna com o universo.