Sentimentalismo
- E qual o problema de você ser sentimental?
- Qual o problema de não ser?
- É que dai não é você.
- Eu sou uma boba sentimental?
- Não! Você se preocupa, só isso... Você é emoção, mais que razão.
- Gosto da razão.
- Eu sei, você sempre tentou usar ela, mas agia com o coração.
- Eu sei...
- Qual o problema de você ser sentimental?
- De novo isso?
- É que você não respondeu
- Não me faz bem.
- Não?
- Não.
- Por quê?
- Muita coisa guardada. Muito sentimento.
- Ah...
- Não quero demonstrar, entende?
- Qual o problema de demonstrar?
- Preciso ser forte.
- Por quê?
- Se não for, eu me machuco.
- Só não precisa ser sempre, ou com todo mundo.
- Mas dai eu terei falhas.
- Todo mundo tem falha.
- Eu sei. Mas as minhas são mais obvias. Todo mundo vê.
- Ou é você que não vê a dos outros?
- Claro que vejo!
- Vê mesmo?
- Prefiro não ver, eu acho.
- Por quê?
- E importa?
- Importa pra mim.
- Por quê?
- Porque gosto de você sentimental. É fofa.
- Não, é estúpido.
- Pense como quiser. Eu gosto.
- Gosta de eu ser uma boba sentimental?
- Gosto que expresse seus sentimentos.
- Por quê?
- É que dai é você, entende?
- Eu sou realmente uma boba sentimental, não sou?
- É. Mas eu gosto disso.
- Eu não.
- Por quê?
- Minhas fraquezas ficam expostas.
- Não precisa ser forte sempre.
- Preciso sim.
- Não...
- Sim... Se não eu desabo.
- Viu, essa é você.
- Não quero ser fraca.
- Você não é.
- Não?
- Não.
- Mas estou sendo.
- Está sendo você, está liberando o que te impede de ser você.
- Tipo?
- Tipo essas lágrimas que você esta impedindo de escorrer.
- Não quero que escorram.
- Mas dai não é você.
- Eu não quero ser eu. Não gosto de mim.
- Eu gosto.
- Fica pra você.
- Tá.
- O quê?
- Tá, eu fico.
-*silencio*
- Tenho condições.
- Qual?
- Quero você sentimental.
- Fala sério! Pra quê?
- Gosto quando chora nos filmes.
- É bobo.
- É meigo.
- Pra que tudo isso?
- Pra você entender que pode ser fraca comigo.
- Então eu sou fraca?
- Foi o que você disse, estou usando suas palavras.
- Então eu posso?
- O quê?
- Ser fraca com você.
- Sim.
- Pra quê isso?
- Pra você entender que não precisa ser forte sempre, pra deixar essa armadura de lado e só ser você.
- Não quero ser eu.
- Por quê?
- Não gosto.
- Qual o problema de ser você?
- Cometi erros dos quais me arrependo muito.
- Todo mundo tem desses.
- Talvez...
- Todo mundo.
- Jura?
- Sim.
- Qual o seu?
- Um ai.
- Como assim?
- Ué, a gente erra, se arrepende e supera.
- Eu não supero.
- É que você é sentimental.
- Até agora isso era bom.
- E é.
- Mas me faz mal.
- Só precisa saber jogar fora os sentimentos velhos.
- Como assim?
- Tipo aquele amor velho, de anos atrás, que você ainda guarda. Ele não vai vir, sabe disso, né?
- Eu sei.
- Supera. Você é melhor que isso.
- Não...
- Sim... Tenta.
- Como?
- Se envolve.
- Com o quê?
- Com quem.
- Com quem?
- Comigo.
- Com você?
- Comigo.
- Por quê?
- Porque não dizer que te amo foi meu erro.
- Você me ama?
- Sim.
- Por quê?
- Você chora nos filmes, e demora pra jogar fora os sentimentos.
- Eu sou boba.
- É fofa.
- Posso ser fraca, então?
- Pode.
- Eu também te amo.
- Eu sei.
- Sabe?
- Sei.
- Como?
- Você fala enquanto dorme. Falou meu nome, uma amiga sua me contou.
- Ah.
- É agora que eu te beijo?
- Não...
- O que falta?
- Você sabe que se for embora eu não vou superar né?
- Eu sei. Eu não vou.
- Mas se for...
- Eu não vou.
- Está bem.
- É agora?
- É agora.