A cabeça esquece, mas o coração sempre lembra.

Era uma tarde de outono, as folhas estavam espalhadas pelo chão da ampla praça, a grama estava bem cuidada e as crianças brincavam no balanço, onde uma pequena brisa assoprava seus rostos.

Em um banco um pouco afastado das crianças, onde residia um pequeno jardim com rosas vermelhas, estava um casal de jovens namorados.

Era assim que Leonardo dizia, detalhadamente, quando as pessoas lhe perguntavam sobre o seu primeiro encontro com Amélia.

Amélia é sua esposa, e os dois estão casados a mais de 50 anos, onde já comemoraram suas bodas de ouro.

_ Lembro-me que ela se destacava no salão ou em qualquer lugar que a via. As outras mulheres aos meus olhos eram quase transparentes, e Amélia, ah Amélia. Ela era cheia de brilho, de cores, lembrava-me o concerto primavera nº. 1 de Vivaldi. Havia ficado muito feliz quando ela havia aceitado minhas flores e o convite para passearmos na praça. – Dizia Leonardo

As pessoas depois de mostrarem uma face sorridente e alegre pela historia contada, quase que subitamente mudavam sua expressão para triste.

_ Bom queridos amigos e amigas, preciso ir para casa cuidar de Amélia, não quero que ela fique sem me ver por mais de uma hora. Quero que se lembre de meu rosto ao despertar, e olhar-me antes de adormecer.

Um senhor que chegou a rodinha de amigos, sem conhecer o casal, comentou debochadamente:

_ Este velho deve estar com medo de se traído, e como dizem os jovens, de ficar com “um par de chifres”.

Deu uma gargalhada, mas logo a cortou, pelas faces sérias e bravas de seus amigos.

_ Joaquim, não digas o que não sabe. Amélia tem o mal de alzaimer e não se lembra de Leonardo e nem da linda historia que viveram e dos três lindos filhos que tiveram.

Leonardo não escutara o infeliz comentário, pois já havia saído. Ele lembrava dos mínimos detalhes sobre sua amada, como era possível, a idade estava avançada e passaram por tantos momentos ruins. Certa vez, seu filho lhe perguntara como tinha uma boa memória e como suportava a dor de sua querida mulher não se lembrar de mais nada, e o velhinho responde:

_ Meu filho, aprenda uma lição muito valiosa sobre o amor: a cabeça pode esquecer devido a causas biológicas, mas o coração nunca esquece. Mesmo sofrendo um infarto ou doenças relacionadas ao órgão, o mesmo é o único que suporta qualquer dor e nunca o esquece.

Sabe por que a cabeça é mais fácil de ser apagada todas as lembranças, mesmo que sejam boas ou ruins e o coração não? Por que a cabeça se lembra e guarda apenas de fatos tristes, preocupantes e mágoas, já o coração despeja todas estas lembranças ruins e guarda somente as boas, o amor, o companheirismo, a amizade, as coisas lindas feitas por Deus e tudo que é feliz e bonito. Por isto o coração é o mais resistente.

E sei que sua mãe, bem no fundo de sua alma, lembra de mim, de nós meu filho, da vida, das coisas boas, e do nosso amor, que é eterno!

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Obs. Este conto foi premiado em um concurso para o dia dos namorados, realizado em minha cidade, foram oito vencedores, mas não houve classificatória de 1º ao 8º, todos foram escolhidos como melhores.

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