DONA MARIA DO "SEU" NILO



Cada história que passo para o papel é como se fosse uma história em capítulos. Maria, uma mulher corajosa, poderia ficar no anonimato, mas merece ser lembrada. Tantas Marias no mundo, tantas histórias vividas.
Dona Maria do "Seu" Nilo, era assim chamada, mulher modesta, acompanhou a evolução da cidade como outras pessoas. Nos idos de 1940, quando do infausto surgimento da tuberculose pulmonar que dizimou a vida de muitos jovens, muito trabalhou.
Quando uma família tinha em casa um portador de doença, era prática da época, retirá-lo do convívio familiar ora com internações, ora fazendo-o morar em outra cidade, afastando-o do ambiente doméstico por ser uma enfermidade transmissível. Foi grande o número de pessoas a migrarem para Tacaimbó (PE), a conselho médico.
Dona Maria, vendo a penúria dessas pessoas, passou a visitá-las e dar seu apoio, fazia um xarope ao qual associava casca de angico, quixaba e outros ingredientes, também uma geléia de mocotó que diziam "levantar defunto".
A medicina da época não conhecia maiores recursos para o combate ao bacilo de Kock, causador da doença. Os enfermos eram tratados com chás de folhas, xarope de agrião. A maioria vinha a falecer. Poucos doentes se recuperavam.
Todos os dias Dona Maria visitava-os. Sendo pessoa de poucas posses, Dona Maria fazia umas balas bonitas, em forma de chupeta, avião, corneta, balão, e, com isso complementava sua renda doméstica. A criançada adquiria as balinhas e chupetas da Dona Maria do "Seu" Nilo.

Tempos depois recebi a visita de "nega", filha daquela bondosa Maria. Conversamos muito. Ela informou que infelizmente nenhuma das filhas ficou com as fórmulas medicamentosas. A receita das balas ficou com Juraci, sua irmã.
Alegramo-nos ao compreender que Deus não nos desampara, e envia seus missionários.

Não sabemos por vezes explicar porque tomamos determinadas atitudes, assumimos iniciativas. Nem todos temos o privilégio do auto-conhecimento. Conhecemos pessoas, passamos a admirá-las, ficamos amigos, assim é a vida.



       (Retirado da obra "Tacaimbó Nossa Terra, Nossa Gente" da Guarazão Editorial. 2002)
Lidia Albuquerque
Enviado por Lidia Albuquerque em 08/05/2011
Código do texto: T2957060
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