A raposa e o coelho

Na cidade das raposas existia uma grande fábrica de artefatos que produzia material de facilitação para a caça. Desde armadilhas para as presas até cordas e cordões para amarrar as vítimas depois de vencidas.

Nesta fábrica tinha uma raposa, chamada Spitz, muito esperta, que cuidava de um determinado setor da empresa. Spitz era terrível, sabia como ninguém ludibriar as pessoas e tirar vantagens pessoais dos negócios da empresa. Ninguém estava a salvo da inteligência da raposa, pois todos queriam fazer algum tipo de negócio com a empresa. E ela era implacável, para fazer algum negócio, tinha que vir com os bolsos recheados de guloseimas e iguarias, senão, nada feito.

Um dia veio o coelho, Spur. Um coelho humilde e simples, que precisava fazer negócios com a fábrica onde trabalhava a raposa, pois estava a pouco num emprego e precisava de uma chance para se manter naquele trabalho, afinal tinha uma família para sustentar.

Spur morava na cidade dos coelhos, que ficava um pouco distante da cidade das raposas. Como era muito pobre, o coitado do coelho tinha que caminhar vários quilômetros para chegar até a cidade de Spitz. Fazia ele esta caminhada todos os dias na tentativa de descobrir uma forma de cativar a raposa e conseguir entrar no negócio, mas ela não queria acordo, para fazer negócio tinha que trazer alguma coisa que ela gostasse senão, nada feito.

Spur conhecia um velho camundongo que era tido como muito sábio e foi procurar o seu auxílio, na esperança de encontrar uma solução para o seu sofrimento. O velho camundongo vivia em uma ermida, distante da cidade das raposas e dos coelhos.

Um dia no final da tarde, o coelho se dirigiu à ermida, na esperança de encontrar o sábio. No meio do caminho ele se entreteve com a vegetação, com as flores, com as borboletas e isso foi aliviando gradativamente o seu grande sofrer, até chegar à casa do camundongo Esturjão.

Quando Spur chegou à casa de Esturjão, este estava meditando, parecia meio absorto para com as coisas da vida, mas quando o coelho se aproximou ele logo abriu os olhos e o convidou a sentar dizendo: eu já sei de todos os seus problemas. Peço apenas que você tenha paciência e confie no poder de sua alma e na justiça de Deus. Esta raposa viveu em uma de suas vidas passadas, momentos venturosos de bondade e serviços para com o próximo, acumulou muitas benções e está usufruindo delas nesta vida, mas os seus desmandos e falsetas estão desgastando de tal forma as suas bênçãos, que logo ela cairá em desgraça. Aguarde com paciência e você conseguirá o seu intento.

O coelho voltou mais animado para a sua casa. Já era escuro, mas o seu sentimento tinha mudado de tal forma que ele nem se preocupava com os perigos da mata. Chegando a sua casa, ele deitou e logo dormiu. Continuou fazendo o seu trabalho do mesmo jeito, sem se preocupar com os desmandos da raposa.

Um belo dia a raposa foi fazer um passeio pelo bosque e uma matilha de lobos a apanhou e a devoraram impiedosamente. No lugar da raposa entrou um quati, nomeado Itur. O quati era uma criatura íntegra e honesta e conhecendo a bondade e necessidade do coelho, se dispôs a ajudar no que pudesse. Deste negócio surgiu uma grande amizade, com aprendizado para ambos os lados.

Moral da história: Na vida, estamos sempre aprendendo. Uns aprendem pela boa vontade, outros pela dor. Quando estamos fazendo alguém sofrer estamos preparando a nossa colheita, quando estamos sofrendo, estamos colhendo os frutos que plantamos em momentos anteriores. A alma é infinita e nós temos muito tempo para acertar os nossos débitos com o universo. É tudo uma questão de tempo.