A comedora de olhos

Conta-se que nas noites chuvosas, em fazendas do interior de Minas Gerais, nos pastos de criação de gado, aparece uma mulher assustadora, vestida de branco, com os cabelos desgrenhados, descalça, os olhos arregalados, como os de uma mulher perturbada mentalmente, seu olhar mantém-se fixo, como a observar ao longe, como se sua mente ou alma não estivesse presente no corpo, ou como se seus pensamentos voassem longe. Muitos fazendeiros e sitiantes, declaram já terem visto essa mulher. Segundo eles ela traz em uma das mãos uma vela acesa (mesmo debaixo do temporal) e na outra um punhal.

Segundo um dos fazendeiros que conta essa história e que aqui chamaremos de Sr. Pedro, em uma noite de muita chuva, raios e trovoadas, ele, no interior de sua casa, percebeu que algo estava deixando os animais inquietos. Os cachorros latiam continuamente, o gado estava eriçado, e os cavalos corriam pelo curral dando coices nas tabuas e provocando grande alvoroço. Sr. Pedro, imaginando estar sua fazenda sendo atacada por ladrões, levantou-se da cama, muniu-se de sua espingarda, uma cartucheira, e foi para o segundo andar do casarão de onde poderia ter uma melhor visão de todo o curral. Ao abrir a janela, pode perceber um vulto que se movia pelo curral de um lado a outro. Gritou alto, dando ordem para que a pessoa que estava no curral se identificasse seria obrigado a atirar, a mulher então se virou e Sr. Pedro pode perceber aterrorizado que se tratava de uma pessoa, com aproximadamente 40 anos, e que embora estivesse debaixo de uma chuva torrencial, a vela que tinha em uma das mãos se mantinha acesa. Não conseguiu compreender como isso poderia ser possível, ao olhar mais atentamente para o rosto da mulher, mas especificamente em seus olhos, sentiu o sangue esvair-se das veias, o corpo ficar gelado e as mãos mal conseguiam suportar o peso da arma que empunhava. Eram olhos frios, gelados, distantes e imensos. Era extremamente perturbador. Fechou rapidamente a janela e pôs-se a rezar desesperadamente. Não conseguiu voltar a dormir. Quando o dia amanheceu, relutou para enfim ter coragem de sair da casa e ir verificar os animais.

Ao entrar no curral, ficou perplexo com o que ocorrera lá. Todos os animais foram atacados e tiveram seus olhos covardemente perfurados. Todos eles, sem exceção, tiveram que ser abatidos. A policia foi chamada ao local, mas não encontrou nenhuma pista, um padre também esteve no local a pedido do Sr Pedro e declarou que a visão fora fruto de sua imaginação e que o mau, feito aos animais, fora obra de algum vândalo.

Até hoje não se sabe o que ao certo aconteceu, apenas que algo muito estranho e inexplicável ocorrera naquele lugar.

Luciano de Assis
Enviado por Luciano de Assis em 12/09/2011
Código do texto: T3214640
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.