A cruz do cemitério

Depois de uma rodada de truco na casa do Sr. Miguel, regada a muita cachaça, embriaguez e cigarros de palha, o Sr. Miguel, homem falastrão, valente e exibicionista, inicia uma discussão com os demais companheiros, sobre bravura. Para ele os seus filhos homens, foram criados e educados para nunca sentirem medo de nada. Um dos companheiros retrucou que no mundo não haveria alguém que nunca sentisse medo de alguma coisa. Sr. Miguel garantiu que seus filhos não tinham, e chamando um deles disse que queria que ele provasse ao companheiro que era valente e destemido e que para isso deveria ir , naquele exato momento ao cemitério buscar uma cruz. O filho retrucou que já passava das onze horas da noite e que não havia necessidade daquilo. Sendo o Sr. Miguel um homem intransigente, repetiu a ordem, o filho, percebendo que seria inútil discutir com ele, ainda mais no estado de embriaguez em que se encontrava, vestiu-se e saiu para cumprir a ordem recebida. Cerca de 40 minutos mais tarde, ao retornar para casa, entregou ao pai a cruz que ele pedira. No centro estava escrito José Aparecido da Silva. O pai todo orgulhoso do feito passou o restante da noite vangloriando-se com seus amigos pelo extraordinário feito do filho.

Durante toda a noite, jogaram cartas e beberam, quando o dia já havia nascido, Dona Joana, levantou-se para preparar o café. Estava na cozinha quando alguém tocou a companhia. Ela foi atender, ao retornar, pálida como cera, disse ao marido que um tal de José Aparecido da Silva estava lá fora, e que havia vindo buscar uma cruz que o filho havia retirado de sua sepultura durante a noite. Todos os presentes se puseram a correr Dalí, menos o Sr. Miguel que foi acometido de uma cegueira e emudeceu-se.

Aqueles que contam essa história garantem que, ainda hoje, o Sr. Miguel não consegue ver ou pronunciar uma única palavra.

Luciano de Assis
Enviado por Luciano de Assis em 12/09/2011
Código do texto: T3214642
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