O menino feio - Lenda urbana de Nova Serrana

Era um dia chuvoso, desses que não se deve sair de casa. Raios cortavam o céu de um lado a outro fazendo a noite parecer dia e trovoadas ensurdecedoras faziam as janelas e portas tilintarem. Tudo parecia normal apesar do aguaceiro que corria pelas ruas, formando grande cachoeiras aqui e ali.

No Hospital São Joseph tudo estava calmo também. Poucos pacientes, nenhum em estado grave. A quietude e a ausência de casos mais preocupantes por parte dos internos davam aos funcionários de plantão, médicos, enfermeiras, camareiras; liberdade para descansarem e, até mesmo, de dormirem um pouco.

Dr. Jorge dormia tranqüilo. Sua próxima missão era trazer ao mundo uma criança que, no útero da mãe, já estava inquieto para ver a luz do mundo.

A gravidez de Sara não fora muito tranqüila e apesar das preocupações, tanto da mãe quanto de seu médico, os nove meses se findaram e o dia do parto enfim chegara.

Ivone, a enfermeira escalada para auxiliar o Dr. Jorge na cirurgia estava a muitos anos no Hospital São Joseph e já vira muitas coisas estranhas naquele lugar.

Algumas mortes estranhas haviam ocorrido em seu interior e muitos acreditavam que o hospital possuía uma maldição. “Crendices de um povo ignorante”; afirmava Dr. Jorge. “Acreditam em tudo que se conta, gente do interior é assim mesmo, ainda hei de deixar esse lugar, não aguento mais lidar com essa gente que ainda dependura meia na janela para ganhar presente do papai Noel”.

Ivone acordou Dr. Jorge minutos antes do horário marcado para inicio da cirurgia. Tudo estava preparado. Os demais profissionais que auxiliariam o Dr. Jorge durante o parto já se encontravam na sala de cirurgia.

Sara foi enfim levada para a sala de cirurgia. Estava tranqüila apesar das terríveis dores que vinham em tempos periódicos.

A cirurgia fora um sucesso, a criança foi levada ao berçário para os primeiros cuidados e colocada em um dos berços disponíveis no local.

Ivone tomou um bom banho após o término da cirurgia, trocou suas roupas e dirigiu-se ao berçário para ver a criança que acabara de ajudar a trazer ao mundo. Entrou vagarosamente e seguiu a passos lentos até o berço onde a mesma havia sido colocada. Assustou-se com o que viu. Era estranho uma criança que acabara de nascer, livre de qualquer impureza ser assim tão feia. Não pode resistir e disse: “Meu Deus que criança feia”. Virou as costas para deixar o aposento e pareceu ter ouvido alguém dizer algo. Mas era impossível, tinha certeza de estar sozinha ali. Virou-se lentamente, a criança estava acordada, os olhos arregalados virando em sua direção, uma expressão no rosto parecia querer dizer que entendera o que ela havia falado. “falou alguma coisa bebezinho”, perguntou instintivamente. “sim, eu disse que feia é a chuva que vai cair aqui em Nova Serrana.

Ivone entrou em estado de choque e começou a gritar desesperadamente, colegas vieram lhe socorrer e encontraram a criança morta, a mãe da criança desapareceu misteriosamente do hospital no mesmo dia, Ivone continuou a repetir o que havia escutado da criança, como um mantra.

Semanas mais tarde, uma chuva muito forte abateu-se sobre a cidade fazendo muitos estragos, causando prejuízo incalculável às empresas e residências, deixando várias pessoas feridas.

O caso tornou-se uma lenda urbana, muitos acreditam que esse episódio realmente aconteceu na cidade, mas ninguém sabe do paradeiro da mulher que deu a luz essa criança. Ivone também não reside mais na cidade fazendo assim aguçar ainda mais a curiosidade e a crença da população em tal relato.

Luciano de Assis
Enviado por Luciano de Assis em 13/09/2011
Código do texto: T3216582
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