Capítulo I

  Um grito ecoava pelo ar, se dispersava buscando ouvintes corajosos, viajando através daquele vento errante, naquela noite caótica e cheia de magia,  enquanto aqueles pequenos braços afastavam os galhos e o mato que se espalhavam por aquela sombria floresta... Ela continuava a gritar...
 
- Socorroooo!!!
 
  A noite dominava o céu, a escuridão emanava medo. O animal seguia ao seu encalço, a garota de cabelos longos, loiros e soltos, tremia de medo. Os dentes da criatura que ela vira de relance eram afiados, a boca salivava em meio a um desejo intenso. Uma fome única. Um monstro a perseguia enquanto ela ainda procurava entender qual era a realidade daquele terrível pesadelo.

 Ela corria, gritava apavorada, havia fugido da mata. Estava agora em um estranho beco, um corredor da morte sem escapatória. Alguns cães latiam no fim da rua, por detrás de uma tela que os mantinham presos.

 O monstro coberto de pêlos por todo o corpo, olhos cinzentos, mãos feito garras, unhas grotescas e sua boca cheia de sangue. A garota estava acuada, agachada atrás de uma lixeira, escondida e temerosa. O medo a paralisava.

 Pra onde ir? O que fazer? A respiração ofegante da criatura contaminava qualquer lampejo de coragem, era como se um enorme búfalo estivesse ali, mas com uma aparência sombria. A criatura horrenda farejava à sua procura, o fuscinho era puro sangue, um odor de animal morto estava entranhado naqueles pêlos, os olhos eram grandes e avermelhados, cheios de raiva.

 Os cachorros continuavam a latir, raivosos e cheios de
uma bravura até ali insignificante. A criatura os fitava vez ou outra, mas estava no rasto da garota.

 De repente um urro alto e assustador...

 A garota encolheu todo seu corpo. O monstro avançou com suas patas contra a lixeira, uma enorme caçamba de aço, suas mãos a deslocaram da frente da menina, com extrema facilidade tamanha a força do animal. A garota caiu ao chão, amedrontada, e vislumbrou a coisa mais uma vez e só assim pode definir a imagem que a paralisara.     

 Era a mistura de um enorme urso pardo com um demônio de asas horríveis... A menina fechou os olhos, e logo percebeu que iria morrer... àquele pensamento pessimista e um tanto realista trouxe-lhe lembranças do antecedera naquela noite até que chegasse aquele beco...

  Começara a noite, seus pais assistiam televisão, (como sempre hipnotizados com as noticias banais, eles nunca saiam de casa) ela estaria supostamente em seu quarto. Havia um velho sótão em sua casa. A menina sabia que era proibido subir ali, mas o que seria de uma jovem sem sua curiosidade. E lá estava ela.

  Abriu o baú de sua falecida bisavó, da qual sequer tinha lembranças, (tudo em sua vida, sempre fora vago demais), encontrou roupas de época, algumas jóias antigas, entre elas um colar vermelho. De alguma forma ela o achava lindo e perturbador, sua corrente era formada por várias cobras, cascavéis que se uniam umas as outras por suas línguas e chocalhos, o pingente era uma estrela de cinco pontas com uma pedra de cor avermelhada no centro.

  Os olhos da menina, quase hipnotizados, ela seduzida por aquele mórbido objeto colocou-o em seu pescoço. Olhou novamente dentro do baú e encontrou um livro enorme e empoeirado que cheirava a mofo. Passou a mão sobre sua capa e assoprou a poeira. Percebeu algo estranho.

  Havia uma espécie de encaixe na capa, um buraco do tamanho e forma do pingente de seu colar. A princípio, ignorou a importância daquilo e tentou abrir o livro. Mas logo notou que aquela tarefa era impossível, suas páginas não se moviam, estavam presas de alguma forma, trancadas.    

  Por alguns segundos ela ficou confusa. Por fim entendeu o que precisava fazer. Pegou o colar e colocou o pingente naquele orifício sem tirá-lo de seu pescoço.

 Algo assustador aconteceu...

 A jovem sentiu um enorme frio, algo que nunca havia sentido, uma sensação confusa, como se algum poder estivesse congelando sua própria alma. Aquilo a tomou de uma forma insana. Inexplicavelmente uma enorme ventania tomou conta daquele sótão, o livro se abriu, as páginas se moveram sozinhas, ela observava aquelas figuras, concentrada e apavorada percebia aqueles estranhos escritos, um idioma diferente do que conhecia, desenhos de criaturas bizarras, monstros que estranhamente lhe eram familiares.

 Não bastasse aquilo, as roupas do baú repentinamente começaram a voar, como estivessem sendo vestidas pela própria ventania, um bando de fantasmas girando ao redor. O baú estava vazio. O Livro nas mãos da curiosa, as cobras do colar começaram a mover-se em seu pescoço, e abruptamente uma espécie de nuvem de fumaça saiu do baú, formou-se algo como um buraco negro, rodopiando e puxando todo o sótão para dentro dele.

  A menina tentou agarrar-se a algo, mas não havia nada em que se segurar.  A força era enorme, por fim não resistiu e foi sugada para o mundo sombrio daquele baú. O livro se fechou e sumiu, como se nunca houvesse existido.

  A garota caiu em uma floresta negra, confusa levantou-se, não estava ferida, mas os sons da noite a assustavam. Ao longe vislumbrou as luzes de uma mórbida cidade, e assustada começou a caminhar na direção dela. Foi quando percebeu que havia algo a perseguindo.

 Num misto de medo e terror, saiu em disparada. Ao olhar para trás de relance viu a silhueta da criatura, um espécie de monstro, de olhos vermelhos, até então, uma sombra assustadora.

 Ela voltou a si...

  O que fiz para estar aqui? Onde estou? Ele vai me matar! – pensava enquanto seu coração quase saltava de seu corpo fransino.

  O monstro bateu suas asas, abriu a boca o máximo que pôde, urrou e avançou com suas garras na direção dela. Paralisada, fechou os olhos e pensou nos pais, sentiu algo fascinante brotar de dentro de si e de repente o pingente de seu colar brilhou. Foi aí que algo extraordinário aconteceu...

 Dois enormes lobos surgiram, lobos horrendos e ferozes. Os animais assustadores atacaram a criatura que a perseguia. Aquela era bem maior que eles. Usava suas garras... Os lobos sempre atacavam com as bocas, a garota assistia a tudo inerte, de certo não sabia o que fazer.

  Um lobo era de cor cinzenta e o outro de um negro assustador, ambos deviam ter o tamanho de três lobos normais, era algo bizarro. Tinham caldas esquisitas, como a língua de uma serpente, partidas ao meio, seus pêlos eram grossos e visguentos e os olhos completamente brancos.

 A criatura continuava a investir contra eles, entretanto os olhos dela não abandonavam a garota, estava sedenta pelo sangue dela, e esta sede custou sua vida.

 O lobo negro aproveitou um momento de distração e atacou seu pescoço, a criatura debateu-se, as presas do lobo negro penetraram com toda força, a criatura segurou o lobo cinza com uma de suas garras, pegou-o e lançou-o na direção da garota, O lobo negro apertou ainda mais, o sangue do monstro jorrou. O outro lobo caiu ao lado da garota. O demônio urso não resistiu e caiu ao chão, morto.

  A garota encolheu-se, com medo de seu fim. Olhava para o animal, agora o lobo caminhava em sua direção. Ela arrastou-se, engatinhando até encostar-se a parede. Surpreendemente ele deitou-se a seus pés e como um passe de mágica voltou a sua forma normal... um cão, o mesmo aconteceu com o outro lobo que estava morto ao lado da garota.

  Curiosa olhou para a tela onde os cachorros latiam e a viu derrubada no chão. Olhou novamente para seu colar e percebeu que o pingente estava apagado. O monstro assustador, agora morto derretia de uma forma bisonha, a pele borbulhando, por fim ele incendiou-se.

  Na entrada do beco uma figura estranha apareceu. Um homem albino trajando uma capa negra, um chapéu estranho e uma bengala. A menina, confusa, assustada e incrédula o perguntou com o pouco de coragem que escapou pela garganta:

 
 - Quem é você?

  O cão foi ao encontro do homem. O mesmo abaixou-se e acariciou-o na cabeça. Em resposta o animal lambeu-o na mão.
 
 - Bom menino! Muito bom, garoto!

 - Onde estou? – Ela insistiu.

 - Uma pergunta de cada vez – Disse a voz rompendo o silencio da noite – Você está em casa, Elisa! Seja bem vinda de volta!

 - Como sabe meu nome? Quem é você? E que lugar é este? – ela indagou ainda mais confusa, e de pé.   
 
 - Este é o seu mundo Elisa, onde tudo é real, e a fantasia não existe, é o mundo dos monstros. Estávamos todos ansiosos pelo seu regresso, mas temos que sair daqui rápido. Mais monstros virão atrás de você – ele advertiu,  enquanto seus olhos rondaram aquele lugar, nada do monstro restava mais.

 - Atrás de mim! Mas, por quê? – Perguntou.

 - Por que você é a única que tem o poder de destruir o Senhor destas Feras.
 
 - Que poder? Está louco! Eu sou uma garota de 15 anos, que ou está louca, ou tendo muita sorte está tendo um horrível pesadelo. Logo acordarei – Disse num tom de garota mimada, de criança, uma menina amedrontada.
 
 - Não Elisa! Você é uma bruxa de 1000 anos, que renasce a cada 200 anos, por causa de um feitiço do Senhor das Feras. Mas que finalmente reencontrou o colar da Vênus – ele apontou para o colar – este que está usando, com o pentagrama. Esta estrela de cinco pontas cercada de serpentes. Você é a salvação deste mundo!
 
 Um ruído estranho chegou aqueles ouvidos, e aumentava cada vez mais, um barulho ensurdecedor de asas batendo, que assustadoramente tomava conta daquele beco.
 
 - O que é isso? – Perguntou Elisa.
 
 - Quer mesmo saber? – ele apontou para o céu negro que os cobria –Morcegos, águias, dragões e é claro, demônios... misture os quatro e terá a resposta que procura.
 
  - Moraguidramõs! – ela disse a si mesmo, surpresa – mas... como sei disso? – pensou em voz alta.
 
 - Foi você que os criou! Precisa aprender a usar o colar - ele sorriu – mas que bom que está se lembrando. São milhares deles vindo em nossa direção. Pequenos monstros que devastam um mundo, se necessário. Temos que fugir daqui e rápido!

Esse conto está sendo repáginado, restaurado num todo ( tem o titulo original de Elisa a rainha dos montros) postarei um capítulo a cada dois dias...


Continua...

Leia o 2º capítulo aqui:

http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/4122562

Sejam sempre bem vindos!





Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 02/02/2013
Reeditado em 07/02/2013
Código do texto: T4119862
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