Capítulo II

 Elisa fugia ao lado do imponente Rottweiler negro que a salvara, enquanto os pequenos e perversos moraguidramõs a perseguiam, tal como uma nuvem de gafanhotos indo direto em sua direção. O homem albino corria mais à frente, a passadas largas.
 
 - Vamos Elisa! Seja mais rápida! Eles estão se aproximando! – ele gritava, vendo os monstros alados que grunhiam ao encalço de Elisa.
 
 - Não dá para te acompanhar, veja o tamanho de suas pernas – Disse ela, ofegante, enquanto corria pelas ruas sombrias daquela macabra cidade.

  As construções pareciam estar ali há anos, casas antigas e nefastas, casarões tingidos de sombras e escuridão, parecia ser uma velha cidade fantasma.

  Um dos pequenos demônios voadores se aproximou mais da garota, ela o olhou de relance e tentou correr ainda mais rápido, porém sem sucesso.

 O animal estava se aproximando vorazmente, Elisa podia sentir o vento das asas assombrando sua pele, o medo ganhou velocidade em suas veias, até que de repente uma flecha atravessou a cabeça da pequena criatura. A mesma foi lançada para trás e com o impacto se perdeu na escuridão de seu rasto.

  Elisa olhou na direção do albino, certa de que o homem a salvara, mas logo percebeu que a flecha não poderia ter sido lançada dele, afinal ele não possuía arco algum.

 - Fique tranqüila! Temos um amigo por aqui – o homem misterioso informou.

 - Que amigo? – indagou a curiosa menina, que ainda tentava entender toda aquela situação e assimilar o fato de poder verdadeiramente não estar tendo um pesadelo.

 Os demônios estavam cada vez mais perto, agora era cerca de uma dúzia deles a menos de um metro da garota. O cão negro latia, tentava defende-la, entretanto os monstros a cobiçavam, ela era o alvo, eles mal se preocupavam com o cão.

  Um dos moraguidramõs agarrou-se ao vestido de Elisa, abocanhou o tecido e ouviu-se o barulho do mesmo sendo rasgado. Ela gritou apavorada.

  O cachorro fez um rápido movimento com o pescoço e o abocanhou, cerrou fortemente sua boca, envolvendo o pequeno animal entre os dentes, e enfim o jogou ao chão, já desfalecido... O pequeno demônio caiu girando e manquitolando.
 
 - Obrigado! – agradeceu ela, correndo feito uma louca. Sentiu outro vento tocar-lhe o rosto, uma flecha que passou rente à sua cabeça, e acertou outra das pequenas criaturas.
 
 - Quem está nos ajudando? – Ela perguntou novamente para o albino.
 
 - Heitor! – ele respondeu.
 
 - Heitor??
 
 - Sim – confirmou.

  Mas quem era Heitor? – ela pensava, mas havia algo muito mais importante a se preocupar, os moraguidramõs se aproximaram ainda mais, tomaram a dianteira da jovem e a cercaram.
 
 - Socorro!!! – ela gritou.

 O albino virou-se para a menina. “Merda!” ele suspirou.

  O cão negro latia e rosnava e uma sombra saltou na escuridão ao seu lado. Uma espada rasgou o ar, e com ele os pequenos demônios.

 Elisa pôde ver enfim quem atirava as flechas. Um jovem, de orelhas pontiagudas, trajava uma vestimenta vermelha por sobre o corpo. Um arco e flecha dependurado sobre as costas, e carregava um escudo á mão direita, um escudo com o desenho de um pentagrama no centro da arma.

  Elisa reconheceu o desenho do pingente de seu colar. Heitor ainda tinha uma espada reluzente em sua mão esquerda, a espada não era muito grande, e na cabeça havia um elmo, um belo elmo dourado.

 - Use o colar princesa! – Ele disse, a voz chegou aos ouvidos de Elisa e estranhamente ela sentiu-se segura nela.

 - Eu não sei como fazer isso! – Ela respondeu.

 - Eu não resistirei por muito tempo - Os moraguidramõs os cercaram e abruptamente o albino jogou a capa que vestia, cobrindo todo seu corpo como o conde Drácula nos contos de terror quando se preparava para transformar-se em um pequeno morcego.
 
 - O que está fazendo? – Elisa perguntou ao albino e ele desapareceu.

- Pra onde ele foi? Ele fugiu – Uma centena dos demônios os atacava – Droga! - Ela praguejou.

  Eles não tinham para onde correr, estavam cercados. Heitor matava muito deles, mas a cada um que matava surgiam outros dois. E para piorar algo rugiu estrondosamente, era o som de uma fera, uma criatura enorme que rugia nos céus e se aproximava em meio à negra e densa fumaça que zombava da noite.

 - O que foi isso? – Perguntou Elisa.

 - Princesa é melhor usar o colar logo! Eles estão chegando muito perto – disse Heitor.

 - Mas como? Não sei o que fazer? – ela respondeu desapontada.
 
 - Naquele momento um dos demônios atingiu o braço esquerdo de Heitor e cravou suas presas nele. O guerreiro soltou um grito de dor. Elisa olhou para o lado, viu o cão sendo atacado. O albino havia desaparecido. A fera soltou outro rugido ensurdecedor e se aproximava, já dava para a jovem bruxa ouvir o som calamitoso de asas enormes desafiando o ar.

  Ela olhou para seu colar. Os pequenos demônios atacavam sedentos por seu sangue e pelo de Heitor, todavia esse a defendia como podia, enquanto o sangue continuava escorrendo pela ferida.

  O que vou fazer? – Ela pensava. Olhou mais uma vez a sua volta. Pegou o amuleto e começou a esfregá-lo.

 - Funcione! Vamos logo! – Dois demônios vieram em sua direção, estava indefesa. Eles abriram suas bocas, e as garras de águia se fecharam prontos para dar o bote. Estavam indo a altura do pescoço dela, e quando estavam á centímetros da menina foram partidos ao meio, caindo ao chão em duas partes.
 
 - O que foi isso? – ela indagou confusa e aliviada, e antes que Heitor a respondesse, o Albino manifestou-se a seu lado.
 
 - O que pensa que está fazendo? Isso não é uma lâmpada mágica! – ele ironizou.
 
 - Onde você estava? – perguntou Eliza.
 
 - Vindo te ajudar! – respondeu enquanto usava sua arma, derrubando mais monstros.
 
 - Você estava invisível? – Elisa estava boquiaberta, era informação demais para processar para tão pouco tempo. Afinal quem eram aqueles dois? Quem era ela? Quem eram aqueles monstros e por que eles queriam destruí-la?
 
 - Sim. Qual é a surpresa? – perguntou o Albino.
 
 - Obrigado! – ela agradeceu – Mas ainda não sei o seu nome.
 
 - Chamo-me Clausbar, mas todos me chamam de Claus – ele respondeu.
 
 - Vocês dois vão ficar aí batendo papo é. Temos companhia! – interrompeu Heitor.
 
 - Os dois olharam por entre as nuvens de moraguidramõs, e então o viram.

  Era um animal ainda maior que o demônio urso, acabara de pousar e recolher suas enormes asas juntando-as ao corpo. Agora andava em quatro patas, tinha duas cabeças enormes e estranhas, uma era a de um leão, e a outra era de um tigre dente de sabre. Além disso, havia na ponta de sua calda uma bola espinhenta. Seus quatro olhos estavam fixos na garota.

 - Droga! – resmungou Claus.

 - O que vamos fazer? – ela perguntou.

 - Você tem que usar o colar – Clausbar falou novamente.

 - Mas eu não sei como!
 
 - Da mesma forma que o usou lá atrás, Elisa – o Albino disse já nervoso, eles seriam estraçalhados por aquela criatura.

 - Eu não sei como aconteceu!

  Os moraguidramõs atacavam sem piedade. Investiam com agilidade e por mais que pequenos eram muitos e muito agressivos.

 - Concentre-se! – Disse o albino, que empunhou sua bengala. A bengala se transformou de repente numa espada negra. Ele a defendia dos pequenos demônios.

  Heitor lutava do outro lado. Elisa se concentrava, enquanto o animal vinha em sua direção, e a cada passo, a cada pisada, a terra tremia. Corajosamente e cão levantou-se e partiu na direção dele desvencilhando-se de seus agressores.
 
 - Não faça isso, Nescuro! – A garota disse num impulso de lembrança e de repente caiu no vácuo de seus pensamentos – Nescuro? Este é seu nome? – O cão parou abruptamente e voltou os olhos para garota, o colar se acendeu. Os olhos do Rottweiler se avermelharam e ele se transformou em um imenso lobo negro, uivou, e partiu na direção do monstro de duas cabeças.

  Elisa ainda estava confusa, enquanto o colar brilhava em seu peito. O brilho foi ficando cada vez mais intenso. Uma luz insuportável para os moraguidramõs que ficaram aturdidos. Como animais das trevas, seres da noite, e principalmente, por serem parte morcegos, não suportavam a luz.

  Os diabinhos bateram em retirada. Nescuro investiu contra o monstro. Uma batalha injusta, mas ele era valente e também tinha muita força. Um leão e um tigre dente de sabre contra um enorme lobo.

 - Temos que ajudá-lo! – Disse Elisa.
 
 - Heitor pegou seu arco e flecha e atirou na direção do monstro, mas a cabeça de leão se esquivou da flecha enquanto uma de suas patas golpeou Nescuro, que caiu inconsciente e indefeso. O monstro ergueu suas patas dianteiras e preparou-se para esmagar o Lobo. Elisa saltou na frente num ato de coragem.

  O animal deu um enorme rugido e preparou-se para matá-la.  Heitor acertou-lhe uma flecha, mas aquilo parecia não lhe fazer nem cócegas. Claus correu na direção de Elisa, mas o monstro desferiu seu golpe e o atingiu com sua calda espinhenta, jogando o Albino ao chão.

 - Elisaaaaa!!! – Ele gritou ainda sentindo a forte pancada. Elisa olhava para o monstro, e consciente de sua derrota fechou os olhos. Lembrou-se de sua casa, de sua vida antes daquilo, o que ela era afinal? Quem ela era? Memórias passadas surgiram em sua mente.

  Elisa viu aquele mesmo monstro. O monstro que ela havia criado. As serpentes do colar se moveram subitamente. Elisa ergueu sua mão na direção do monstro. As patas enormes desciam com toda força e velocidade que a gravidade lhe permitia.

  Um urro enorme e assustador escapava de suas bocas, mas algo aconteceu. Claus e Heitor a olharam surpresos. Um vento enorme saiu das mãos de Elisa, como um furacão e jogou o monstro á metros de distância. Ele caiu aturdido.

  Heitor correu na direção dele e desferiu dois golpes com sua espada. Cortou-lhe suas cabeças que caíram inertes no chão. O animal de repente dissolveu-se, findando em uma gosma de sangue borbulhenta.

 - Elisa? – Chamou Claus, indo á sua direção.

Ela olhou mais uma vez para ele, piscou os olhos, sentiu o estomago embrulhar e uma fraqueza enorme a tomou, o mundo inteiro parecia girar.

 - Claus... estou muito cansaaada...  – a garota desmaiou sobre o corpo de Nescuro.

Continua...

Leiam o primeiro capítulo...

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Sejam sempre bem vindos!
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 04/02/2013
Reeditado em 07/02/2013
Código do texto: T4122562
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