A QUEDA DOS DEUSES
 
- Engenharia, relatório de danos.

- Casco comprometido, Senhor. Perdendo atmosfera em vários compartimentos, explosões internas em múltiplas plataformas. Possível falência dos sistemas na câmara do reator.

- Telemetria, qual nossa localização?

- Inconclusiva, Capitão. Computadores não permitem uma leitura precisa do espaço.

- Alguém pode me dizer que merda esta acontecendo?

A estação prisional Olympus era o que de mais avançado existia em sistema de detenção alienígena. Fortemente armada, orbitando os anéis externos do buraco negro denominado Cronos era simplesmente inatingível sem auxilio dos mapas de navegação da Coalizão Interestelar, qualquer tentativa e lá estava a anomalia faminta.

Por centenas de anos, todo o universo enviava seus piores criminosos para aquele calabouço, juntando ali tudo de ruim que se poderia imaginar.

Naquele plantão fatídico algo aconteceu. O lastro falhou. Como uma bolha de sabão a enorme estação fora sugada pelo vórtice cósmico. As extremas mudanças de pressão, as temperaturas oscilantes e a aceleração inimaginável provocavam efeitos desastrosos no casco de titânio enriquecido. Ninguém sabia o que iria acontecer no minuto seguinte.

Vivos ainda estavam, a que custo era impossível precisar. Eram os primeiros a sobreviver a tal aventura. Todo e qualquer corpo celeste que até então caiu nas garras daquele enorme glutão puderam ser vistos dilacerando-se antes mesmos de estarem totalmente submersos no desconhecido.

A Olympus estava muito bem preparada, aventavam esta quase improvável possibilidade, antes algumas sondas foram lançadas, nunca tiveram respostas, finalmente teriam testemunhas.

Na ponte de comando, o capitão pressionava sua equipe tentando entender o ocorrido. Apesar da aparente frieza, todos temiam por suas vidas.

- Bloqueio automático em todos os níveis. Isolem os compartimentos inferiores.

- Senhor, temos homens combatendo em franca desvantagem, vão ficar isolados sendo impossível conter o avanço dos prisioneiros...

- Sem discussão, bloqueio agora. Se os guardas falharem as comportas não falharam. Nossos homens aceitaram os riscos... Chefe da guarda, relatórios...

- Desculpe-me Senhor, perdemos vários setores. Prisioneiros avançando sobre os níveis 18 e 43. Bloquemos o avanço dos humanoides, precisamos reforços na ala das quimeras.

- Reagrupar todas as equipes nos níveis de superiores. Todos os guardas apresentem-se aos oficiais em comando. Engenharia, como estamos?

Mesmo isolada, a ponte de comando parecia trepidar a cada nova explosão, os sinais de perigo fustigavam as retinas com seu forte brilho vermelho, os sons dos alarmes já haviam sido assimilados pelos ouvidos, nem pareciam existir frente aos gritos do comandante.

- Os efeitos do buraco negro foram catastróficos ao casco externo. As explosões internas diminuíram nossa capacidade operacional. Reatores de energia perdendo potência. Motores de lastro a 25%. Colapso total iminente.

- Suporte de vida, situação?

- As áreas isoladas estão evitando a perda de atmosfera. Baixas em mais da metade de nosso pessoal. Quase todas as celas foram abertas. Impossível precisar quantos detentos estão à solta.  Setor dos plesiosianos e dos sederineos totalmente destruído. Perdas graves entre os humanoides porém é onde esta mais forte o combate corpo a corpo.

- Telemetria. Localizar ponto de apoio e reparos.

- Comunicação. Reestabelecer contato com a coalizão.

- Capitão. Equipamentos transmitindo perfeitamente, nossa recepção também não foi afetada... Mas... Parece que não existe ninguém para receber...

- Vamos lá telemetria, me dê algo... Qualquer informação.

- Ao que parece... Só conjecturas, Senhor... Quando atravessamos o vórtice do buraco negro fomos arremessados a centenas... Milhares de anos luz de qualquer galáxia mapeada... Estamos num ponto totalmente novo no universo... Nossa analise revela que alguns sistemas planetários ainda estão em formação...

Na imensa escuridão do espaço infinito, a alma do jovem capitão parecia tão fria e vazia como aquilo que existia além dos anteparos da Olympus. Tristeza e ódio queimavam em sua mente enquanto o desejo de autopreservação e salvamento dos seus comandados o mantinham lucido. Seu coração também era vasto, apesar de estar experimentando um turbilhão de emoções, o cérebro deveria ser responsável por manter o equilíbrio, mas o arrependimento era doloroso, como deixou as coisas chegarem neste ponto? Havia sido indulgente além do necessário?

Quando criança, ele nunca sonhou com uma vida aventureira, pacato, queria ser diplomata como seu pai, um líder de seu povo na Assembleia da Coalizão Interestelar. Lia muito buscando sempre aprimorar seus conhecimentos. Seu irmão. Este sim possuía espirito indomado. Foi ele quem propôs a Academia Militar, força e audácia era seu lema.

Durante o aprendizado, os dois caminharam juntos, se completavam em combate, audácia e astúcia, força e inteligência. Nunca se distanciavam, por uma década eram os melhores em todos os requisitos. No campo de batalha, nunca foi diferente.

Um dia as guerras diminuíram, o universo se tornou pacífico, pelos serviços prestados veio à nomeação:
Capitão da Estação Prisional Olympus e seu Oficial Imediato no Comando.

Que afronta, aquele comando deveria ser seu, nunca poderia aceitar a submissão, nos combates era o primeiro, sempre seguido pelo irmão e agora isso. Impossível.

Orgulhoso, cheio de empáfia e com a alma queimando nas chamas da inveja recusou a patente. Jamais seria a sombra de alguém menor que ele, por outro lado o sangue falou mais alto. Não o abandonaria.

Chefe da carceragem. Tudo bem, assim ficaria próximo mas não à sombra.

Nada pôde ser feito para convencê-lo a subir à ponte sendo como sempre seu braço direito, o jeito foi tê-lo da forma em que ele se propôs.

Em meio a tantas explosões o capitão remoía os últimos acontecimentos. Sempre parceiros, agora estavam cada vez mais distantes, pararam de se falar com frequência, estranhamente via o irmão estreitar os laços de amizade com os detentos, parecia brotar ali uma espécie de conluio entre as piores criaturas confinadas.

Era necessária uma reprimenda. Não o fez, deixou as conversas evoluírem para aquele motim, culpa sua ele sabia.

Encarcerado naquela estrutura artificial estava um dos mais poderosos exércitos jamais concebido, precisavam apenas de um líder. Tomando a estação, teriam um excelente centro de comando, dali poderiam saquear e conquistar impunemente.

Em qualquer plano sempre existe o imponderável. Tem criaturas que jamais serão controladas. Ao ser libertada a grande besta da nebulosa Érebo saiu destruindo tudo a seu alcance. Agora estavam todos prontos a serem aniquilados se nada de novo acontecesse.

As lutas no interior das galerias afunilavam-se, ambos os combatentes tinham baixas consideráveis. Ligeiramente em vantagem, os criminosos empurravam os guardas para os níveis superiores, era uma proporção de dez por um, apesar de não estarem bem armados.

- Capitão. Sensores localizaram um planeta compatível com nossa atmosfera. Categoria cinco. Presença de minerais necessários para reparos, grandes massas de água, continentes bem definidos, florestas e biodiversidade abundante. Sem sinais de tecnologia, possível raça dominante, humanoide.

- Engenharia, é possível alcançar a orbita deste planeta?

-Telemetria, marcar coordenadas. Estamos funcionando no mínimo Senhor, redirecionado toda energia para sistemas de preservação de vidas e reatores de impulso. Chegar lá, eu garanto, depois só a sorte.

Enquanto na ponte as preocupações eram em manter o resto da integridade da estação, nos níveis amotinados, sedentos de sangue a escoria galáctica divertia-se dizimando os poucos e heroicos guardas que teimavam em resistir. Seu líder demonstrava um prazer macabro ao presenciar o ultimo fio de vida abandonar o corpo do moribundo. Logo ele que neste momento deveria ser o arrimo do capitão tornou-se o nó da forca em seu pescoço.

Foram apenas horas entre a queda no famigerado Cronos até a orbita do pequeno planeta azul que bailava em torno duma estrela amarela, mas dentro da Olympus uma epopéia digna de um capitulo a parte na história do universo era escrita.

- Todos os setores iniciar procedimentos orbitais. Acionar lastros magnéticos.

- Sistemas falhando. Quase a totalidade da energia restante foi consumida na viagem. Proteção dos reatores deteriorando. A gravidade do planeta nos pegou. Sugiro módulos de fuga, Senhor.

A tripulação presente na cabine, com o uso dos módulos de fuga sobreviveriam, infelizmente os bravos que ainda combatiam perder-se-iam inutilmente. Escolher a forma de morrer era a única coisa que lhe cabia, seria sua ultima decisão como capitão.

- Telemetria, calcular ponto de entrada mais seguro para possível pouso no mar. Engenharia, desviar toda energia para escudos frontais, inclusive do suporte de vidas.

A estação prisional ficou tetricamente às escuras, todas as máquinas pararam, apenas as luzes de alerta piscavam. A enorme estrutura de titânio como um barquinho de papel era levada pelo sopro do vento cósmico.

- Alerta, módulos de fuga foram lançados, múltiplas partidas Senhor. Amotinados deixando a estação.
Mais essa, sem saber o que esperar daquele jovem planeta, eles acabaram de despejar ali uma grande amostra do pior lixo espacial.

Serenamente, o capitão deu sua ultima ordem.

- Comunicações. Abrir canal para todas as frequências.

- Aqui é o capitão da Estação Prisional Olympus, membro da Coalizão Interestelar. Devido à rebelião interna, nossa estação foi avariada, perdemos nosso lastro e fomos tragados pela anomalia espacial denominada Cronos. Milagrosamente fomos arremessados com vida a uma parte ainda desconhecida do universo. Prisioneiros amotinados empreenderam fuga á um pequeno planeta azul de classe cinco compatível ao sustento de vida humanoide.

- Oficiais presentes na ponte da Estação Prisional Olympus:

Capitão – Zeus

Suporte de Vidas – Poseidon

Engenheiro Chefe – Hefesto

Chefe da Guarda – Ares

Telemetria – Atena

Embaixadora da Coalizão – Hera

- Alerta especial contra oficial líder dos amotinados

Chefe da Carceragem – Hades
 
Numa noite aparentemente tranquila, simples pastores se prostraram suplicantes no solo admirando ao longe um brilho divino no topo do monte enquanto que do céu belas estrelas pareciam visitar a Terra.

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Contadores de Histórias
Enviado por Contadores de Histórias em 24/02/2015
Reeditado em 13/03/2015
Código do texto: T5148346
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