O Amor Venceu
O sol lentamente no horizonte se punha,
Emprestando à terra quente e arenosa
O brilho fulgurante da púrpura abrasador.
Um estranho cortejo avançava o pórtico
Do grande templo do Sol,
Trazendo prisioneira,
Pelas mãos fortes de cálidos soldados,
Uma jovem guerreira,
Sacerdotisa dos templos de Amon-Rá.
E à frente do Séqüito cruel, impiedosa e cega
Pela sede de vingança incontida,
Vistosa dama da corte real,
Portadora das forças do mal,
Trazia nas mãos a serpente,
Que com seu veneno fatal
Ceifaria o riso e a beleza
Daquela que com seu meigo coração
O augusto chefe das guardas houvera
Para sempre conquistado.
Apenas uma luta ligeira,
Um debater de forças débeis, em mãos de ferro,
Como o peixe arpoado inutilmente
Procura livrar-te do arpão.
E uma mão impiedosa,
Empunhando não o punhal,
Mas uma naja escamosa,
De encontro ao pescoço alvo,
Impetuosamente avançava.
Apenas um soluço...
E a areia quente polvilhando-lhe o rosto e a mente,
Enquanto maldosa, a real cortesã
Intimamente se sentia saciada e feliz,
Por ver desvanecer seus receios
Na rival de sua vaidade desmedida.
Longos anos se passaram.
Muitas vezes o vento seco do deserto
Removeu e carregou a areia quente
Que a tudo assistiu.
E o mundo seu curso seguiu,
Porém, a vida nas vidas se repetiu
E outra vez no seu caminho
A sacerdotisa surgiu.
Trazia, ainda, no rosto
A beleza e a candura de outrora
E no coração o mesmo amor
Que um dia lhe levara à morte.
Uma vez mais a raiva e o desprezo
O coração da impiedosa cortesã contaminou.
E seu orgulho, uma vez mais,
Ditou-lhe as regras e as manobras ardis
Para arruinar aquela a quem,
Um dia, o destino com sangue selou.
Porém, esquecera
Que o tempo inaudito dos faraós perecera,
Evoluindo as vidas
E aplainando os caminhos.
E foi em vão,
Que ardilosamente tecera sua infâmia e mentira,
Tentando macular, 2.000 anos depois,
A honra e o coração daquela herdeira.
Em sua cegueira, não enxergara
A força e a Luz daquela verdadeira herdeira de Isis
E, desta vez, mesmo sendo, ainda, traiçoeira,
Não conseguiu vencer a forte barreira,
Que a luz dos tempos,
No espírito daquela que fora sempre verdadeira
Fortificara nos alicerces de um grande amor.
Nem o tempo,
Nem a efêmera cegueira das falsas ilusões
E nem, tão pouco, o ardil
Daquela pobre feiticeira
Resistiu ao brilho incandescente
Da verdade que por Deus prevaleceu
E na luz do Amor, com fulgor, resplandeceu.