Capítulo 6
A PRIMEIRA VÍTIMA

 
     Quando chegou a Teresina pôde ver que a realidade não era tão maravilhosa como imaginava nos seus sonhos, o pai já com uma nova família, a mulher grávida, estava mais preocupado com essa realidade do que resolver a vida de Vonaldo, coitado, pois vinha fugindo do tio abusador. A primeira coisa que o pai lhe disse foi: você precisa arrumar um emprego, pois aqui a vida é difícil e eu não vou sustentar malandro. Aquilo foi uma punhalada, seu pai nem quis saber como estavam os irmãos, da sua vida, das suas dores. Naquele momento seus sonhos passavam a pesadelo, suas esperanças se tornaram dúvidas, seu corpo tremia, o desespero lhe batia forte no peito. Calado estava, calado ficou, quando conseguiu falar disse que estava ali para trabalhar e que no outro dia sairia à busca de emprego, não mediria esforços para conseguir um trabalho.

     No dia seguinte vestiu sua melhor roupa e foi à procura, depois de vagar por aquela cidade estranha, porém, acolhedora, conseguiu o seu primeiro emprego. Chegando aos estúdios da rádio da cidade pediu que o locutor anunciasse seu pedido de emprego, o que não foi nem preciso, como a auxiliar de serviços gerais havia saído de licença para ganhar bebê, lhe foi oferecido à vaga. Ele poderia trabalhar de auxiliar de serviços gerais, ganhando meio salário mínimo da época. Não pensou duas vezes, aceitou na hora, quem sabe ali estaria o seu futuro.

     Chegando em casa contou aos demais, seu pai ficou feliz, quem sabe assim ele daria valor ao trabalho e conseguiria sobreviver. Mas ao que pareceu, a doença já começava tomar conta da sua cabeça, imediatamente enviou uma carta para sua mãe e seus irmãos contando que já estava empregado e que em pouco tempo seria locutor de rádio. Com seu falho português, disse que havia conseguido emprego como auxiliar de radialista, que inclusive, já fazia algumas falas em determinado programa. Sua mãe ao ler suas bravatas ficou feliz, pois imaginava que talvez ali fosse acontecer a grande virada na sua vida e, não perdeu tempo, espalhou a notícia para todos conhecidos, o que passou a ser o comentário na cidade.

     Passado um ano da sua chegada, já ambientado no lugar e, com sua forma perigosa de faltar com a verdade, em certo festejo religioso, procurou a igreja próxima de sua casa e pediu para trabalhar como DJ, operando o som, colocando as músicas e falando o nome dos patrocinadores. Passou por cima do atual locutor tomando o lugar de um pobre rapaz. Foi diretamente ao padre da paróquia e sem nenhum remorso, mentindo disse: que trabalhava na rádio da cidade e, portanto, estava capacitado a operar o sistema de som e mais um monte de mentiras. O padre ficou lhe observando e apesar da pouca idade, pois já estava com seus quinze anos, acreditou e lhe deu a chance, se fosse mal rapidamente poderia ser substituído.

     Em poucos dias já havia conseguido convencer a todos que de fato era radialista, por sua doença, tem grande facilidade na mentira, é capaz de mentir olhando nos olhos e em terra de boa gente, bandido sempre se sai bem. Não foi difícil dizer que, inclusive, era sobrinho do dono da rádio da cidade.

     Numa das noites de festa da quermesse, conseguiu sua primeira vítima, Suzana, uma criança da cidade, vinda do interior, com seus recentes doze anos completados, foi vítima fácil, envolvida nas mentiras do locutor. Naquele dia iniciava a carreira de crimes sexuais do Pedófilo de Luz. Sem dó nem piedade após alguns meses engravidou Suzana, destruindo a vida daquela pobre criança, que não conseguiu se defender da investida daquele que traz dentro de si a capacidade doentia de envolver as pessoas e delas abusar. Grávida, Suzana foi obrigada por ele a tomar medicamento abortivo, e assim, livrando o pedófilo, apesar das complicações de saúde e vergonha perante a família.
Afonso Luciano
Enviado por Afonso Luciano em 16/12/2014
Reeditado em 16/12/2014
Código do texto: T5071208
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