PADRE HENRIQUE - Um Mártir da Ditadura

Monografia apresentada para conclusão do Curso de Especialização em História do Nordeste Brasileiro – Universidade de Pernambuco – UPE - dezembro de 1998.

Especialista: Prof° Paulo José Barros Filho

Autor do Cordel: Ismael Gaião da Costa – outubro de 2009.

Foi no ano de 40

Que Padre Henrique nasceu

E a 28 de outubro

Para o mundo apareceu

Paulo José Barros Filho

Descreveu com muito brilho

Como foi que ele viveu

Seu nascimento se deu

Na Veneza Brasileira

Com o nome do avô

Antonio Henrique Pereira

Foi menino genial

E lutando contra o mal

Construiu sua carreira

Sua infância foi ordeira

Sem querer religião

Mas ainda quando jovem

Já chamava a atenção

E quando fez 15 anos

Ele então mudou seus planos

Causando admiração

Fez primeira comunhão

E entrou pro Seminário

Decidindo que iria

Tornar-se um Celibatário

Sendo muito inteligente

Daquela data pra frente

Começou o seu Calvário

Foi da Igreja operário

Com bonitas pregações

E juntando pais e filhos

Nas suas reuniões

Se tornou admirado

Tendo como resultado

Aproximar gerações

Por essas suas ações

Uma bolsa ele ganhou

E pros Estados Unidos

A Igreja lhe indicou

No entanto um capelão

Agiu com perseguição

E quase lhe atrapalhou

Mas Henrique viajou

Cumprindo a sua missão

E nos Estados Unidos

Fez especialização

Foi muito discriminado

Mas estando preparado

Voltou pra nossa Nação

Após sua ordenação

Começou a renovar

Procurou quebrar conceitos

Da Igreja secular

E a maior inovação

Foi fazer celebração

Sem cobrar pra celebrar

E também pra batizar

Dinheiro não recebia

Se lhe pediam ajuda

O que tinha dividia

Pois era muito envolvente

E agradava a toda gente

Com a sua simpatia

Por tudo que ele fazia

Ganhou fama nacional

Sendo Padre de destaque

No trabalho Pastoral

Das coisas que defendia

Respeito à cidadania

Foi seu maior ideal

Vendo seu potencial

Dom Helder lhe convidou

Para ser seu Secretário

Assim que se ordenou

Com a sua inteligência

Trabalhou com competência

E aos seus fiéis agradou

Sempre se preocupou

Com a classe estudantil

E durante o sacerdócio

Não mudou o seu perfil

Com essa sua postura

Discutia a conjuntura

Dos problemas do Brasil

Porém o Governo hostil

Implantado na Nação

Proibia qualquer tipo

De conscientização

Henrique não recuou

E assim continuou

Na evangelização

A Igreja até então

Se mostrava dividida

E a classe universitária

Era sempre reprimida

Pelo Governo opressor

Que praticava o terror

Sem nenhum respeito à vida

Dom Hélder por sua lida

Começou a incomodar

Mas pela sua importância

O Governo Militar

Usava de sabotagem

Porém não tinha coragem

De mandar lhe assassinar

Então para se vingar

O Governo Ditador

Perseguiu o Padre Henrique

Que passou dias de horror

Pois constantemente lia

As cartas que recebia

Com tom ameaçador

Todo esse ódio e rancor

Que no Governo existia

Não era pra defender

A nossa soberania

Era só pra nos roubar

Mas pro Golpe Militar

Isso era ideologia

Criaram a guerra fria

Praticando todo o mal

Só para fortalecer

Os donos do capital

Tanto da nossa Nação

Quanto da maior porção

Que era internacional

A repressão foi brutal

E fez o povo sofrer

Não se podia falar

De quem tava no poder

E o povo sendo explorado

Tinha que ficar calado

Se não quisesse morrer

Ao invés de nos proteger

A Polícia Militar,

O Exército e a Civil,

Serviam pra torturar

Já as famílias sofrendo

Foram seus entes perdendo

Sem poder nem enterrar

Sem aceitar se calar

Os jovens contestadores

Que fossem padres, políticos

Estudantes, professores

De vez em quando sumiam

E os governantes fingiam

Não serem os torturadores

Pensando nesses horrores

Que vivemos na Nação

A Igreja usou um lema

Pregado em cada sermão

“Que a maior prova de amor

É a de um leigo ou pastor

Dar a vida pelo irmão”

E a Igreja usava então

Com muita prioridade

Esse lema pra Campanha

Em prol da Fraternidade

Mas não imaginaria

Que o Padre Henrique seria

Refém da perversidade

Saindo sem ter maldade

Pra última reunião

Henrique ouviu uma moça

Pedindo orientação

Ela veio com malícia

Mandada pela Polícia

Pra lhe fazer traição

Sequestrado pela mão

Do Governo linha dura

O Padre Henrique virou

Um Mártir da Ditadura

Pois ele foi arrastado

Enforcado e assassinado

Com bala, faca e tortura

Numa manhã obscura

Em uma estrada precária

Da nossa tão importante

Cidade Universitária

Seu corpo foi encontrado

Pois foi lá que foi jogado

Da forma mais arbitrária

A Polícia sanguinária

No ano sessenta e nove

Cometeu a atrocidade

Que até hoje nos comove

O matou barbaramente

E não há inconsequente

Que esse ato não reprove

Mas existe quem aprove

Os atos da Ditadura

Que em 27 de Maio

Na maior descompostura

Tentou abafar o fato

Dizendo que era boato

Que existia tortura

Sem a menor compostura

O caso foi apurado

E nenhum dos assassinos

Do Padre foi condenado

Henrique tombou sem sorte

Mas esse “esquadrão da morte”

Teve o processo arquivado

Com o Padre assassinado

O Governo que o matou

Achando pouco o que fez

E o crime que praticou

Tentou desmoralizá-lo

Querendo caluniá-lo

Porém isso não vingou

Muito tempo já passou

Da farsa que foi montada

É bom que a Justiça lembre

Que a vida que foi ceifada

Era de um Mestre e Pastor

Que só pregava o amor

Querendo a paz e mais nada.

Recife, 28 de outubro de 2009

“Só é cantador quem traz no peito

O cheiro e a cor de sua terra,

A marca de sangue dos seus mortos

E a certeza de luta de seus vivos”

François Silvestre, Escritor e Cantador