A MARVADA
Trecho da cantoria virtual empreendida por poetas da Comunidade Metamorfose, Cordel & Poesia, do Orkut.
Os versos a seguir são todos do poeta Sander Lee, mas na comunidade você encontrará de outros poetas versando sobre o mesmo tema.
Adoentado eu andei
E disseram ser virose
Um bebum da minha rua
Me receitou uma dose
Quando disse que não bebo
Mandou-me pra zoonose
Lu faz com que me comporte
Mas antes não era assim
Eu bebia e fumava
Em todo baile e festim
Porém hoje bebo água
E Lu não acha ruim
Aquela falsa alegria
Que dava a bebedeira
Perdia toda a graça
Na ressaca borracheira
Ainda com agravante:
Sem níquel na algibeira!
Cinquenta e Um amarela
'Pitú', com erro e tudo
E quanto mais eu bebia
Relaxava no estudo
Mas dela me afastei
Tornei-me quase sisudo
Digo com propriedade
Pois também já fui escravo
Coisa ruim é a bebida
Que traz à saúde agravo
Agora só bebo água
O alcool não alinhavo
Eu também era novinho
Quando tomei um pifão
Foi lá na praia dos índios
Baia da Traição
E quando cheguei em casa
Dei com a cara no chão
Um bebum pôs-se a orar:
"Ah, se chovesse cachaça!
Nem que fosse bem fininha...
A vida teria graça
Eu cavaria um açude
No lugar daquela praça!"
Ao sair da faculdade
Num dia de sexta-feira
Meti a cara na cana
Na madrugada inteira
Dormi no caramanchão...
Meu Deus, que grande besteira!
Ser sóbrio é ter alegria
Viver com satisfação
E equilibradamente
Investir no coração
Ter mais tempo pra família
E ter mais educação
Qualquer birita ele traça
Da mais pura a mais papuda
O fígado não aguenta
Grita pedindo ajuda
Quanto mais o seu pé incha
Mas na marvada ele gruda...
Quando vai amanhecendo
Para controlar a mão
Ele corre e toma uma
Não poupa nenhum tostão
Falta na segunda-feira
Toma mais uma brejeira
Pensando que é o patrão
Para mim é escusado
Defender o cachaceiro
Eu também já fui um dia
E achava prazenteiro
Mas ser sóbrio, descobri,
É melhor do que dinheiro!
Eu só bebo da natura
Boa água cristalina
Já bebi tanta cachaça
Que quase perdi a crina
Era quase um Jumento
Desgraçando a minha sina
Na adolescência querida
Perdi muita madrugada
Nosso point era a igreja
Na sua alta calçada
Bebia quase um tonel
Da cachaça apurada
Eu fico todo sem graça
Lembro-me do tempo ido
Os meus pais davam conselho
Mas eu não lhes dava ouvido
E até vinte e nove anos
Andei no 'aico' perdido...