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A SAGA DE QUINCAS CIPÓ
- A Origem da Lenda -
 

Contando não se acredita,
Nessa inusitada estória,
De início um tanto esquisita
E desprovida de glória.
D’um cabra ainda mocinho
Muito fraco e mirradinho
De vida um tanto simplória
 
Um cabra de tão franzino
Alguns dele tinham dó
Outros faziam chacota
E lhe zoavam que só
Nada tinha de divino
Só dizia desatino
O então Quincas Cipó
 
Não queria ser fracote,
Numa vida de arremedo
Esse cabra se enfiou,
Vivendo sempre com medo
Tão magro que nem lombriga
Fugia de qualquer briga,
Mais rápido que torpedo
 
Decidiu que era hora
De acabar com essa agonia
Não queria mais o medo
Que de nada lhe valia
Queria ser corajoso
Pensava em ser poderoso
Ter bastante valentia
 
Sem saber o que fazer
Absorto em pensamento
Embrenhou-se na floresta
Caminhando a passos lentos
Não notou o passar da hora
E perdido estava agora
Sem água sem alimento
 
Cai a noite, tudo escuro
Sem ao menos u’a lanterna
‘Tava perdido no mundo
Sente a tremura das pernas
Na hora que o medo vem
Busca um refúgio porém
Por sorte acha uma caverna
 
Medo de tudo e de todos
Ficou com olho lá fora
Se esqueceu da retaguarda
Não pensou naquela hora
Vasculhar tudo lá dentro
Nem notou que bem no centro
Uma gata lhe namora
 
E quando caiu em si
Já lhe cheirava o cangote
U’a gata de bafo quente
Pronta pra lhe dar o bote
Chico, duro, estarrecido
Feito pão amanhecido
Berrou tal qual um garrote
 
Até a onça assustou-se
Da reação do sujeito
Que de tão inesperada
A gata ficou sem jeito
Sem saber o que fazer
Vendo o cabra se tremer
Se encantou pelos trejeitos
 
Outras gatas se aproximam
Pretendendo u’a refeição
A onça então lhe protege
Lhe tendo admiração
Bicho nenhum chega perto
E Quincas boquiaberto
Começa ter afeição
 
Entre olhar de encantamento
Vez ou outra uma lambidela
Ficam os dois ali parados
Quincas vai gostando dela
Perguntou se ela lhe gosta
“Meeaaauu” foi a resposta
Seguido de piscadela
 
Pelo amor correspondido
Quincas lhe dá um apelido
Pra sua onça Marruá
Ela então lhe dá um rugido
Dizendo estar decidido
Lhe tomar como marido
Um companheiro querido
 
 
 
 
Pra firmar o casamento
Passa idéia em sua cabeça
Que ter sua noite de núpcias
Era algo que mereça
Ficou todo decidido
Fazer o ato atrevido
Mesmo antes que amanheça
 
Vai aqui, cerca dali
Age como um domador
Fala mansinho depois grita
Luta como gladiador
Difícil foi convencer
A tal Marruá lhe ceder
E ter uma noite de amor
 
Decidido foi pra cima
Ouviu-se forte alarido
Foi um pega pra capar
Ficando Quincas ferido.
Ninguém havia lhe dito
Amor de bicho é esquisito
Sentiu seu corpo dorido
 
Mas o amor foi consumado
Seu rosto a felicidade
Cansado tomba de lado
Marruá é sua metade
Estando em pleno cochilo
Ouve ao fundo o som dum grilo
Que lhe traz à realidade
 
Você apagou, todos dizem
Quando viu aquela fera
Se travou como um cabrito
Não sabia nem quem era
De primeiro estatelado
Em seguida desmaiado
Era aquilo uma quimera
 
Quincas teve um grande susto
Nem havia amanhecido
Tudo estava ainda escuro
Logo ali tava caído
Tava estendida no chão
A sua outrora paixão
De novo perde os sentidos
 
 
 
Foi uma noite tão fatídica
Triste estória imaginada
Mas pra ele era verídica
A sua vivida jornada
Quando lembra ainda chora
Por ser de sina um caipora
Co’a vida valendo nada
 
Revolta-se com coragem
Da uma guinada na vida
Não mais arrasta a moral
Tendo alma ainda ferida
Promete ser destemido
Agora um cabra aguerrido
De fibra uma outra medida
 
Vai de covarde a valente
Viúvo, não mais solteiro
Encarava toda gente
Era agora tão matreiro
E todos lhe tinham medo
Já não era mais segredo
Tornara-se justiceiro
 
Vive hoje na caverna
Bem lá longe no sertão
Só vindo quando lhe chamam
Precisando de uma mão
Resolver caso trigueiro
Limpo, rápido, ligeiro
Contra todo valentão
 
Assim contam essa estória
Do tempo da minha avó
Ainda guardam na memória
Não há nenhum quiproquó
Não sendo nunca esquecida
Essa lenda é conhecida
Saga de Quincas Cipó
 





Walter Peixoto
24/07/2012






PS-1 - Esse é meu primeiro cordel. Críticas serão bem vindas. 

PS-2 - Depois daquele "meeaauu" Talvez só volte com pseudônimo





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A SAGA DE QUINCA CIPÓ
1ª parte - A Origem da Lenda


2ª parte - Até Macaco Velho Bota a Mão em Cumbuca
          http://www.recantodasletras.com.br/cordel/4595773

3ª parte - O Valente Cai de Pé
          http://www.recantodasletras.com.br/cordel/5454020