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A SAGA DE QUINCAS CIPÓ
- Até macaco velho bota a mão em cumbuca -
 
 
 
Quem não se lembra de Quincas
Desse sertão um vivente
Viúvo d’onça marruá
Na lembrança ‘inda dolente
Quando ainda rapazote
Um tonto, mole e fracote
Agora, cabra valente
 
Tornou-se homem de fibra
Dos fracos um defensor
Não permitia injustiça
Era agora um vingador
Jamais negou um chamado
De quem fosse injustiçado
Ou quem fosse o violador
 
Virou alvo de suspiro
Sendo Quinquinha o apelido
Aos olhos de toda moça
Belo, garboso, garrido
Muito embora pouco lindo
E nunca visto sorrindo
Era Quinca um bom partido
 
Criou fama, virou lenda
Por muitos admirado
Era de fato querido
Mas também invejado
Pelas ruas comentários
Objeto de imaginário
Por mulheres desejado
 
Certa feita bem lá longe
Estando Quinca a lembrar
Do grande amor de sua vida
Seu nome ouve chamar.
Assim que sai da caverna
Vê o guri que se prosterna
No enluarado lugar
 
Mais um pedido de ajuda
Linda donzela em perigo
Sem perder tempo partiu
Levando as armas consigo
Força, bravura e coragem
Marruá como uma imagem
E o ódio pelo inimigo
 
Do destino chega perto
Não vê viv’alma sequer...
Num lugar ermo e deserto
Só o rastro da mulher...
Caburé pia distante
Lua brilha cintilante
Todo cuidado é mister
 
Quinca bom leitor de pistas
Tão logo entende o que lê
Fica logo pessimista
Mal presságio antevê
- Esse alguém está sozinho
- É o que diz esse caminho
- Só não atino o porquê.
 
Heroi, valente que era
Passa sebo nas canelas
Sem pensar no que o espera
Sai no encalço da donzela.
Quando assunto era mulher
Não tinha noção sequer;
Belo pato pra esparrela
 
Numa choupana afastada
Sorrindo à espera do pato
Ela sorrindo à sua espera...
Acha estranho aquele fato
O bom senso lhe cochicha
De repente cai a ficha...
Ele se sente um gaiato
 
- Eu sou a sétima filha
- Quero ‘ocê como marido
- Vamo formar u’a família
- Não se faça de fingido.
- Tenha um pouco de cautela
- Pois eu ‘inda sou donzela
- Meu cavaleiro garrido
 
Não resiste ao par de coxas
Consume o fato no ato,
Luz da lua sobre a colcha,
Iludido, não é sensato
São muitos ais e gemidos
Amor cheio de alaridos
Muito fogo, muito tato
 
A danada lhe sorri
Ouve ao longe um falatório
- É meu pai que vem aí
- Vai fazer nosso casório
Bem mais perto outro latido,
Estava agora perdido.
- Tá cheirando é a velório!
 
Salta nu pela janela
Com arma em punho somente
Não ia à moça dar trela
Sair dali era urgente
Saltando mais que gazela
Deixa de lado a cautela
Na mata entra valente
 
É tiro pra todo lado
Cachorro no seu encalço.
Quinca se via capado,
Ou talvez no cadafalso.
Tudo ia pro vinagre,
Escapar, só por milagre!
Nunca viu tanto percalço...
 
Ouve o pio dum caburé
Sob um galho ali bem perto
- Agouro de mal-me-quer!
- Meu destino agora é certo!
Começa ao Santo rogar
Pra não ter que se entregar
Pois morreria decerto.
 
Sem cabeça, apenas fogo
Com ferraduras de prata,
Como a ouvir o seu rogo
Vem trotando pela mata
Pelo escuro como breu
Quinca logo entendeu
As donas daquelas patas
 
Tal coisa de imaginário
Todos gelam co’a visão
Quinca nem era vigário
Mas causara a mutação
Nem santo, tampouco fera,
Mas fato que também era
objeto de adoração
 
Sem querer virar Ibope
Fugindo da confusão
Quinca dispara à galope
Em busca de salvação
Quinca cipó o Valente
Somente aos Santos temente
Cedera à nova paixão!
 
Fato aumenta sua lenda...
Sempre à luz duma candeia
Tem amor em sua tenda
Lua nova ou lua cheia.
Perambulam aos sete cantos
Todo o lado é seu recanto
Todo canto é só farreia!
 
 
De dia é moça bonita
De noite vira uma besta
O amor ao vento recita
Sob a lua uma seresta
Que não há quem desminta
Par que se ama na quinta
Par que se ama na sexta
 
Esse é um amor chamuscado
Idolatrado também,
Foi por eles consagrado
Entre os viventes e o além;
Nada no mundo limita
E se alguém não acredita
Então não ama ninguém!
 
 

 
 
 
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A SAGA DE QUINCA CIPÓ
1ª parte - A Origem da Lenda

          http://www.recantodasletras.com.br/cordel/3796400 

2ª parte - Até Macaco Velho Bota a Mão em Cumbuca

3ª parte - O Valente Cai de Pé
          http://www.recantodasletras.com.br/cordel/5454020