Os Incríveis Xerácu-bengas

O xerácu-bengas são seres incríveis que povoam a terra deste tempos ancestrais. São muito sociáveis, vivendo em grupos familiares com forte hierarquia, na qual, por uma posição de maior poder, são capazes de se digladiar por horas, mas, uma vez definido o líder, os outros o seguem e amam apaixonadamente, acatando suas ordens sem questionamento. Uma de suas principais características é justamente esse amor incondicional que nutrem pelos membros de suas famílias, sendo, por isso, conhecidos como sinônimos de "fidelidade". São donos de uma inteligência peculiar, aptos a aprender e seguir as regras que se lhes impuserem, mas estão sempre dispostos a desafiá-las se perceberem fraqueza de seus superiores. Possuem uma memória inacreditável, podendo encontrar objetos escondidos e reconhecendo um afeto ou um desafeto muitos anos mais tarde. Alguns espécimes são muito receptivos a estranhos, outros os recebem sempre em pé de guerra, portanto, é bom ter algum cuidado ao ser apresentado a um deles. Uma boa tática é a aproximação frontal, tranqüila e decidida. Deixar-se analisar antes de qualquer tentativa de contato é sempre ajuizado. Ainda assim, tudo pode falhar e, nesses casos, é melhor deixá-lo quieto ou correr, se ele realmente demonstrar qualquer atitude mais beligerante. Eles nunca sorriem, mas são capazes de demonstrar a sua alegria de forma inequívoca, pois possuem uma fascinante expressão corporal. Aliás, boa parte de sua comunicação se dá pela forma com que movem e balançam o corpo, arqueando a coluna, eriçando pelos, levantando ou abaixando as orelhas, abrindo e levantando as narinas. Possuem olfato e audição excelentes, visão nem tanto. Por isso, identificam as pessoas e outros xerácu-bengas pelo cheiro, daí a razão do nome, já que, na maior parte das vezes, optam por procurar os odores próximos à região sexual e à bunda das pessoas. Os representantes do sexo masculino têm o hábito de marcar o território com urina e tentar copular com as pernas de pessoas desavisadas, o que pode tornar bastante complexa sua convivência em ambientes refinados. Se você já conviveu com um xerácu-benga, sabe do que eu estava falando antes mesmo da terceira linha.

São os nossos adoráveis cãezinhos, esses seres capazes de fazer um dia em que tudo deu errado ficar perfeito, pela simples forma com que nos recebem ao chegarmos em casa. Ninguém consegue fazer uma pessoa sentir-se tão amada quanto um cão. Ele lamenta sua ausência como se fosse morrer de saudades e celebra seu retorno como se não o visse há milênios, mesmo que você apenas tenha ido à garagem, buscar alguma coisa esquecida no carro.

São os guardiões de nossos lares. Nossos amigos fiéis, protegem nossas vidas com as suas. São utilizados por bombeiros, pela polícia, por criadores de ovelhas e gado, por caçadores, por peruas que querem chamar a atenção, por terapeutas no auxílio ao tratamento de pacientes com distúrbios sociopatas, pelo cinema, pela publicidade, pelas indústrias químicas, pela medicina.

Recentemente, quase que por acidente, observou-se que os cães são capazes de farejar tumores. Mostraram o caso de um fox-paulistinha que implicou com uma manchinha surgida na perna de sua dona e só acalmou-se depois que ela se submeteu a uma cirurgia, onde extraiu o princípio de um câncer de pele. Pesquisadores têm analisado esse fenômeno e já fizeram várias experiências de sucesso onde cães treinados eram capazes de apontar, com um baixo índice de erro, o vasilhame com urina de pacientes que tinham câncer de próstata.

Sua memória afetiva já rendeu filmes lindos, como aquele em que um grupo de animais atravessa os EUA atrás de seus donos. Há músicas que falam deles. Há um episódio de Futurama de Matt Groening, em que o protagonista, Fry, tem a chance de trazer de volta à vida um cachorro que teve antes de ser congelado, mil anos atrás. No final, ele decide não fazê-lo, temeroso de que o animal não se lembre dele. O episódio termina com uma seqüência de imagens apresentando os últimos anos de vida do cachorro, à espera do dono, sob chuva, neve ou sol. Impossível não marejar os olhos.

Um premiado comercial da Santa Casa mostra um cãozinho à espera, triste, por dias e dias. Até que um homem passa na rua e o cachorrinho faz a maior festa para ele. O homem age como se não o conhecesse e vai embora e o cãozinho volta à sua melancolia. A propaganda encerra-se de forma genial, fazendo campanha pela doação de órgãos.

Outra, igualmente sensível, foi lançada na Europa, onde, em alguns países, é comum as famílias abandonarem seus animais de estimação quando viajam de férias. Mostra um enterro e as pessoas indo embora ao final das cerimônias. Quando tudo fica vazio, um cachorro surge detrás de uma lápide e deita-se sobre a terra ainda fofa do corpo recém enterrado. O locutor afirma: ele jamais abandonaria você. E você? Vai abandoná-lo?

Espero que a propaganda tenha sido efetiva. Sou voluntária da sociedade protetora dos animais em Brasília, a Proanima, onde faço as atualizações, das páginas de animais para doação no site.

Essa pequena atividade extra-profissional me faz muito bem, na maior parte das vezes. Porém, vez por outra chegam uns anúncios que me deixam com vergonha de ser gente... É inacreditável o que meus iguais são capazes de fazer com os pobres bichos, dá vontade de chorar: são filhotes recém nascidos abandonados, animais mortos ou quase mortos por espancamentos, por envenenamento, atiçados em rinhas, explorados como matrizes reprodutoras, como cobaias... Felizmente, faço parte do grupo que tem a esperança de um dia mudar isso. Quer ver um dia bom para mim? É quando transfiro bichos da página de doações, para a de finais felizes, onde falo um pouco das famílias que os adotaram... Essa alegria de saber que os bichinhos estão seguros e sendo bem cuidados e amados é um bálsamo para minha pobre alma. Só não é melhor do que o que sinto ao ser recebida pelas minhas xerácu-bengas quando chego lá de onde eu venho.

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Se quiser conhecer mais sobre os xerácu-bengas da Proanima, visite nosso site: http://www.proanima.org.br