Opinião Formada

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Ana Esther

‘Tira logo a foto, então, porque o meu ônibus já vem vindo!’

‘Tudo bem. Deu, já tirei! A senhora assina pra mim esta declaração permitindo que eu utilize sua foto em meus projetos?’

‘Claro, seu moço. Vou ficar torcendo pelo teu sucesso, tudo de bom. Tchau pra ti. Olha aí o meu ônibus!’

A senhora de verde entrou no ônibus toda feceirinha por ter sido fotografada pelo moço bonito com seu projeto para o curso da faculdade. Foi tudo tão rápido, ele chegou, abordou-a, explicou resumidamente o motivo para fotografá-la na parada de ônibus e ela aceitou posar para ele. Nunca verá, no entanto, o resultado de seu gesto.

O pessoal que continuou na parada não agüentou a curiosidade e caiu em cima do moço fotógrafo crivando-o de perguntas.

‘Mas seu moço, isso aí é trabalho seu mesmo ou é o quê?’

‘Ah, o meu projeto é fotografar pessoas idosas em paradas de ônibus, quero fazer um Estudo Fotográfico e mais tarde uma exposição. Tchau pra vocês.’

A conversa esquentou na parada do ônibus. A Maria não se conteve.

‘Viu só João, eu duvido que é verdade. Vai vê ele qué mesmo é segui a véia pra depois seqüestra ela, isso sim. Tá preparando o bote!’

‘Será? Eu tenho pra mim que o cara é um taradão. Vai vê ele é um daqueles que gosta de sacanagem pelo computador. Vai usa a foto da véia pra se diverti.’

‘Cruzes, já pensô o perigo que nóis corremo... E se ele tirasse a foto di nóis?’

‘Virge santa!’

‘Ô, João, e se de repente ele trabaia pra um desses programa de TV que dão dinhêro pra quem concorda em participa das brincadera...’

‘E não é que é mesmo possívi? Aonde é que o cara foi? Corre, Maria, vamo atrais dele, tarveiz ele tira a nossa foto também e nóis ganha o prêmio. Corre, corre!’

*Esta minha crônica foi publicada no jornal literário Letras Santiaguenses Julho/Agosto-2008, Ano XI, Número 76, pág. 05.