FIM DE FESTA
 
 
     Aqui da minha poltrona, junto à janela, vejo a noite escura, a falta de luz, “deu blecaute”. O silêncio é total, mas pouco acima da minha cabeça toca um sino – blém, blém, blém. O cheiro de murta entra pela sala suavemente com a brisa gostosa da noite escura e silenciosa. Tristão e Isolda quietinhos na casinha embaixo da árvore, as duas tartarugas... namoram tanto! Como se tivessem dezoito anos; mas no momento elas dormem tranqüilamente.
     O blém blém do sino – colocado na janela no Natal de 2007 para substituir o outro já sem som – me fez lembrar o de uma catedral imponente bem distante; e também me leva numa viajem à minha infância, quando não precisava faltar luz para comungar com a natureza e ouvir o sino da Matriz tocar; os vaga-lumes, o cheirinho de mato verde trazido pelo ar gostoso e a brisa.
     Aqui da minha janela, vejo a guirlanda e os sapatinhos de Papai Noel pendurados na porta; o clima ainda é de fim de festa. No momento estou a luz de velas, meus objetos da mesa e meu belo jarro de flores do lado do piano desafinado – porque sua dona um certo dia o esqueceu e não tocou mais, desafinou também. Há, esqueci! Logo ali em frente o jarro de girassol, lindo! As garrafas verde e azul, o telefone do início de 1930 e todos os outros objetos inanimados têm o meu bem querer. Sinto-me maravilhada no meu mundo.
     Faltam Juquinha e Karol que foram ao médico veterinário; os meus dois amores. Na área dos fundos da casa, estão Chaiom, Rato e Bitoca à minha espera para fazê-los dormir. Na sala ao lado está a televisão apagada pela falta de luz, e eu fico aqui na janela olhando o meu pequeno mundo.


Lidia Albuquerque
Enviado por Lidia Albuquerque em 17/12/2008
Reeditado em 17/12/2008
Código do texto: T1340614
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