Tormento.

Seu Antonio era homem pacato, todo certinho. Morava com sua família: A esposa, dois filhos de seu primeiro casamento - com dona Clemiuda em memória e outros três filhos com dana Jane, sua esposa há 25 anos. Dizia ele nunca ter tido um minuto de sossego, se queixava de ser um infeliz na sua repartição, onde o chefe o tratava grosseiramente. Em casa vivia no inferno, pois dona Jane se queixava da falta de dinheiro, dos filhos, do trabalho, da casa, dele... Quando colocava os pés em casa vinha ela brigando; falava da manhã até a noite. Vivendo nessa agonia, seu Antonio dava graças a Deus quando tomava o café da manhã e colocava os pés na rua, na ida para o trabalho; e ai pensava no chefe...

Num dia daquele -triste rotina-, saiu de casa, pegou a lotação, foi ao trabalho com de costume e saltou no ponto com o tempo chuvoso – chuva fina, garoa. Na pressa, nem se deu conta que o salto de seu barato sapato tinha ficado pela rua, e só p percebeu ao chegar à repartição; onde pediu um vale ao “patrão” para comprar um sapato novo quando saísse para o almoço. Nesse momento nem ele imaginava o novo tormento que o aguardava.

Chegando à sapataria, começou a escolher um que agradasse a sua esposa. Olhou na vitrine, colocou alguns, mas não se agradou de nenhum. O vendedor já não sabia o que fazer para agradar aquele novo cliente, quando de repente seu Antonio olhou a vitrine e gostou de um sapato de verniz preto, bico fino, todo da moda: “É esse” exclamou feliz. Ao colocar o sapato pensou: “É hoje que calço o que me agrada e a mulher fica feliz” e saiu já com o par de sapatos novos nos pés, deixando o outro pé de sapato para ser jogado no lixo.

Foi trabalhar feliz, até chegar à hora de voltar para casa, quando de repente sentiu os pés adormecidos. Ficou de pé e andou um pouco, mas os pés doíam loucamente, comichavam. Seu Antonio nunca teve tanta vontade de ir para casa como naquele dia; já estava com dor de cabeça e enjôo. Pensava: ”A dor já subiu para a cabeça, e até o corpo me dói”.

Contava os minutos para acabar o expediente. Novamente apanhou a lotação e caminhou até sua casa; entrou sem ser notado, dirigiu-se ao quarto e tirou os sapatos. Os pés estavam roxos e com os dedos encolhidos por conta do bico fino.

De repente o alívio. Graças a Deus! “Pela primeira vez tenho um alívio na vida. E que alívio..!”

Publicado no Jornal “A Tribuna” Belo Jardim, PE

Lidia Albuquerque
Enviado por Lidia Albuquerque em 06/04/2009
Código do texto: T1525399
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.