Tempestade em fim de tarde

Era tarde a chuva vinha de longe. Passavam conversando muitos homens apressados, na saída das fábricas. Vinham nuvens escuras, bem perto, cada vez mais perto. O vento era forte e as pessoas continuavam passando, algumas com guarda-chuvas nas mãos esperando a hora de descer o pé d’água; conversavam uns com os outros, apressados e com passos largos.

As árvores saudavam as nuvens grávidas, acenando com seus chapéus verdes, e tudo brilhava na superfície da Terra. Sobre as pedras da rua, o correr das enxurradas; a chuva caia cada vez mais forte, seguindo a música dos passos encharcados.

Haviam muitos carros com os vidros fechados a deslizar molhados; os bares de toldos baixados, onde homens aqueciam-se com pedras de gelo a desesperança que chovia dentro deles.

Do outro lado, uma mulher de cabelos soltos atravessava a rua deserta como uma rainha, pisando nas alamedas de seu reino. Somente ela, com sua capa de chuva, parecia fazer parte daquele quadro. Ao longe de todos eram participantes daquele mundo de água e céu revolto; e até as palavras iam ficando esquecidas.

A cidade pouco a pouco ia se transformando num grande lago, parecendo um espelho onde cisnes adolescentes passavam com suas lendas, seus enigmas, sua rotina e suas múltiplas idas e vindas.

Tudo acontecia entre prédios e automóveis; no caminho havia o sortilégio, porque era tarde e a chuva ainda de longe.

Públicado no jornal "A Tribuna" Belo Jardim - PE

Lidia Albuquerque
Enviado por Lidia Albuquerque em 08/06/2009
Código do texto: T1638018
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.