Devoção ao deus Baco e à musa Gula

Devoção ao deus Baco e à musa Gula

Ana Esther

Mas bah, que baita vontade de um mate amargo, tchê!

Como é bom um chimarrão!

Bate uma fome danada e ataco um croissant crocante, fumegando, recheado com queijo Brie e antes de levá-lo à boca passo o dedo na geléia de amora e espalho com fartura e sem vergonha nenhuma sobre a delícia que então saboreio sem mais delongas.

Ainda com a boca cheia vislumbro na mesa o pão de queijo quentinho ao lado da nata batida... A nata aguarda no pão a minha doce indecisão: qual doçura combinará melhor? Doce de leite, figada, goiabada-cascão talvez... ou... quiçá, geléia de pitanga, doce de coco queimado?

Oh, amarga indecisão – enquanto pondero, que tal preparar o paladar com um belo licor de genipapo? Ah, assim fica mais fácil!

Mas então, que guloseimas são aquelas mais adiante? Sucumbo ao pão de queijo recheado com a nata e geléia de marmelo e vou já em direção à ambrosia, ao manjar branco, estou enxergando bem? Serão mesmo morangos ao ‘fondue de chocolat’?

SIM! SIM!

Hum... tantos sabores merecem um bom vinho... um espumante rosé très brut, ah, adoro as bolhas, complemento perfeito para...

Para este enorme pudim de baba-de-moça em minha frente!

Como resistir a mais um gole deste vinho tão nobre se os meus olhos miram, impacientes, aquela torta de nozes com chocolate amargo, cerejas e chantilly...

Outro gole de vinho e me agarro a inebriantes bombons recheados com licor de amêndoas. Coisa boa degustar.

Onde está o vinho?

Ói, ói, ói... Lá o vejo... entre o faisão assado com batatas sauté com quatro queijos –todos divinamente derretidos- e a supimpa lasanha de frutos do mar...

Mais vinho!

Valha-me Baco!

Salve-me, ó Gula, musa das musas!

* Este meu texto foi publicado no jornal Letras Santiaguenses Ano 13, Número 81, Maio/Junho 2009, pág. 10.