As forças se inverteram

Minha tia foi viajar, deixando assim minha mãe e eu encarregadas de cuidar de meu avô, que esta bem debilitado e velhinho. Ficaremos alguns dias na casa.

Em um momento, na qual minha mãe estava cochilando, meu avô havia nos chamados, e sempre o pegamos juntas, já que ele não possui qualquer tipo de força e controle nos pés e no corpo, minha mãe não agüenta com ele sozinha e eu tenho medo de pegá-lo sozinha também, colocá-lo na cadeira de rodas e o levar ao banheiro.

Bom, sem alternativas, acabei indo o atender, onde o mesmo necessitava ir ao banheiro novamente, pensei: “Será que consigo? Estou com dó de acordar minha mãe, que esta de pé desde as cinco da manhã”, e lá fui eu ‘carregar’ ele.

Estranhei no começo o peso dele e a força que tive para segurá-lo, na qual até pude me livrar de uma das mãos para aproximar a cadeira mais perto dele.

Esta simples atitude me fez vir aqui escrever e filosofar sobre a idade, a juventude e o tempo (o senhor de cinqüenta por cento das letras de musicas, crônicas, poemas, dentre outros, visto por ai a fora).

Estou nos meus vinte e poucos anos e qualquer peso não me incomoda, estou sempre arrastando móveis de um lado para o outro sozinha, pegando TVs, armários, na academia pego mais peso – óbvio que não pego 150 kilos ou algo do tipo, afinal sou mulher – e vejo como estas atividades são simples para mim.

Minha mente volta dez anos e lembro vagamente de meu avô forte, homem vital, que me segurou no colo, que trabalhou “pesado” e hoje depende da neta mulher, a mesma que foi carregada por ele, para ir ao banheiro. As “forças” se inverteram.

Além de o tempo me assustar (e acredito que assuste muitas pessoas), “ele” ainda nos decompõe, nos transforma e deforma.

Um dia terei forças para comer? Vestir-me? Escrever?

O Tempo é o que mantém as esperanças, onde cura dores e nos tiram as crianças!

O Tempo pode curar dores psicológicas e nos dar em troca dores fisiológicas, então o que posso esperar dele? Achar que é o melhor remédio, ou apenas uma contagem do que realmente nos espera? Um tranqüilizante preparatório de uma dor, porém passageiro, para outras dores futuras, dores reais?

O tempo meu amigo, é apenas as forças se invertendo.

Rafaela Malon
Enviado por Rafaela Malon em 04/08/2009
Código do texto: T1736172
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.