Proposta de emprego
Wilson Correia*
– Você está precisando de uma nova secretária?, indagou a benfeitora ao dono da vaga.
– Sim, respondeu ele. De alguém que trabalhe, e não que me dê trabalho.
– Pois tenho uma ótima indicação, se apressou ela.
– De quem se trata?, interessou-se ele.
– De Dona Obina. Ela trabalhou muitos anos com um velho ranzinza na cidade grande. Suportou aquele Senhor até não mais poder. Sofreu que só ela sabe contar.
– Pois então, informou ele, preciso de uma pessoa que:
1 Aja com criatividade, senso de oportunidade e justiça;
2 Apresente espírito cooperativo;
3 Atue proativamente, com determinação e flexibilidade;
4 Demonstre domínio específico articulado com visão generalista;
5 Mostre habilidades de coordenação e liderança;
6 Não tema riscos, ousadias e mudanças;
7 Porte alto grau de concentração;
8 Porte-se como se fosse cega, surda e muda no pessoal próprio e alheio;
9 Possua domínio da teoria, da prática e da ética profissional;
10 Preze a boa-vontade e o entusiasmo;
11 Prime-se pelo trabalho em equipe;
12 Que respeite para se fazer respeitar;
13 Saiba conduzir as atividades com seriedade;
14 Seja dedicada ao alcance de objetivos comuns;
15 Seja organizada;
16 Seja moralmente boa, bondosa, do bom e do bem;
17 Tenha feito estágio supervisionado e tenha experiência;
18 Tenha grave senso ético e proficiência;
19 Tenha senso de responsabilidade;
20 Vise à competência na tomada de decisão.
– Pelo que a conheço ela preenche suas exigências, sim.
– Mas ela sofreu "aaanossss" com um patrão ranzinza?
– Sofreu!
– Então é melhor não...
– Mas... por que?
– Porque, minha “benfeitora”, essa Obina é incompetente: se não foi capaz de arrumar uma pessoa bacana com quem e para quem trabalhar, então ela é inabilidosa, acomodada e sem senso de iniciativa: tudo o que eu não quero perto de mim. Prefiro, como diz minha lista, de alguém que esteja vivo e com vontade de viver e de fazer viver.
– Arrggg... desculpas...
– Nada por esta vez, minha “benfeitora”!
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*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009.