Para Atrair Boa Sorte
e Afastar o Azar


Esta semana um amigo pediu-me que torcesse por ele. Iria enfrentar uma série de reuniões importantes de trabalho, cujo resultado poderia influenciar sua carreira. Torci, claro, que é para isso que servem os amigos, mas no fundo sabia que na sexta-feira receberia a notícia de que tudo havia corrido bem, pois sei de sua competência e profissionalismo. Sei que ele havia trabalhado muito e se preparado bem para esses encontros.
Daí, lembrei-me da frase de Thomas Jefferson: "Quanto Mais eu Trabalho, Mais Sorte eu Tenho". É verdade. Os resultados em nossa vida são sempre muito mais fruto de suor e fosfato do que da eficiência das bênçãos de nossas mães, dos pés de coelho ou olho gordo.
Recentemente, recebi uma série de videozinhos, propagandas de uma seguradora em que o mote era "acidentes não acontecem". Um deles, mostrava uma bela chef de cozinha, dizendo-se feliz e competente e completando que se casaria dali a alguns dias, não fosse pelo óleo derramado no chão da cozinha. Em seguida, ela pega uma enorme panela fumegante e dá alguns passos com ela, até escorregar na tal poça de óleo e cair, derrubando todo o conteúdo da panela sobre si. Todas as outras propagandas seguem mais ou menos este enredo: mostram o desastre e sua vítima, falando (antes ou depois) do erro ou do conjunto de erros que resultou em sua desgraça. O recado é claro: não existe acaso. Tudo acontece em decorrência de atitudes ou da falta delas, seja da vítima, seja de um terceiro.
Neste final de semana, participei de um torneio de tênis. Ainda estou em recuperação depois de quase um ano sem jogar, não tenho conseguido treinar muito por causa da chuva, o piso era saibro - eu nasci na lisonda, na lisonda me criei e da danada da lisonda, nunca me separei - e, pra piorar amanheci com uma terrível dor de estômago: meu café da manhã foi uma pastilha de magnésia bisurada. Fui ao banheiro três vezes antes do jogo, quando entrei na quadra, meu corpo todo tremia. Se não bastasse, enfrentei logo no primeiro jogo a adversária mais forte do torneio. Claro que fiz uma partida tacanha. Perdi feio, "de bicicleta: dois pneus", como chamamos um resultado de 6x0, 6x0. Um baita azar... Não. Não foi azar. O tempo que passei sem jogar foi conseqüência do período em que não tomei os cuidados mínimos para garantir uma boa postura no trabalho e por isso machuquei o pescoço, o que refletia em dores terríveis no cotovelo. Poderia treinar mesmo com chuva, se o tênis fosse mais prioritário para mim. Bastaria para isto, associar-me a um clube com quadras cobertas. Da mesma forma, poderia tirar alguns dias para treinar no saibro, acostumando-me mais a este tipo de piso. A dor de estômago foi conseqüência da alimentação descuidada da véspera. Quanto ao fato da adversária ser mais forte... bem, eu poderia ser esta adversária mais forte se me dedicasse mais.
Pensando deste modo, tomo para mim a responsabilidade pelo meu fracasso. Como diz o filósofo Homer Simpson, "a culpa é minha e eu a coloco em quem eu quiser". Prefiro colocá-la mesmo em mim e não na sorte ou azar. O acaso pode ser ótimo para nos redimir de nossas culpas, mas por outro lado, torna-se um redutor de possibilidades, castrando nossas perspectivas de melhorias. Assumir a responsabilidade sobre nossos atos é o que nos faz os autores do nosso destino.