UMA VIAGEM POÉTICA PELO SERTÃO DO PAJEÚ

Na última terça-feira do ano de 2009, eu saí de Pesqueira, Agreste de Pernambuco, onde passei o Natal e o Ano Novo, e, juntamente com minha esposa, Walkíria e meu filho, Ismaelzinho, fomos conhecer o famoso Sertão do Pajeú, a Terra dos Poetas. Desde agosto, eu prometia ao poeta Dedé Monteiro que iria visitá-lo e conhecer essas terras. Finalmente, cumpri o prometido.

Foi uma viagem maravilhosa. Estradas em linha reta - parecia que não tinham fim - cercadas de uma vegetação rasteira e, vez por outra, a presença de pessoas com os traços característicos dos sertanejos, sob um sol de quarenta graus. Cercas de varas dividindo as fazendas, animais atravessando a pista, jumentos puxando carroças, etc. Uma paisagem belíssima!

Passei por Sertânia, Albuquerque Né (distrito de Sertânia), Iguaracy (terra do poeta Maciel Melo), Afogados da Ingazeira (Metrópole do Pajeú), chegando a Tabira, onde fui recepcionado pelos amigos poetas, Dedé Monteiro e Felipe Júnior. Recepção melhor, impossível!

Enquanto estávamos na casa de Dedé, ele telefonou para alguns poetas da cidade e, de repente, chegaram o poeta Genildo Santana, que tive o enorme prazer em conhecer, e a simpática amiga poetisa Verônica Sobral (editora do blog Balaio de Poesia), que me deu o prazer de revê-la. A partir daí o bate papo poético foi algo indescritível. Doei alguns de meus cordéis aos poetas presentes e ganhei o livro “Uns sonetos e outros versos”, do poeta Genildo Santana.

À tarde fomos a um “comes e bebes” na residência de Paulo Manu, genro de Dedé Monteiro e aí, mais uma vez, o poeta Dedé telefonou aos amigos poetas tabirenses. Chegaram os poetas Zé de Mariano e Albino Pereira. Já dá pra se imaginar o quanto se recitou e se ouviu poesias, tudo regado a muita bebida e deliciosos pratos regionais! Foi uma tarde espetacular!

À noite fomos jantar com o poeta Felipe Júnior e sua esposa Cybelle em um excelente restaurante da cidade. Além, de um jantar delicioso, tivemos uma rodada de piadas, contadas pelo especialista, poeta Felipe Júnior, e um interessante papo sobre a gravação do nosso futuro CD de poesias, em parceria, que pretendemos gravar ainda este mês e a edição do meu livro, “UMA COLCHA, Cem Retalhos”.

Na quarta-feira pela manhã fui dar uma volta pela feira de Tabira com o poeta Dedé Monteiro. Achei sensacional! Há muito tempo eu não via uma feira de interior tão grande e tão bem diversificada. Era o tradicional e a modernidade juntos em uma só feira. Não sei não, mas acho que aquela feira não deixa nada a dever se comparada à feira de Caruaru.

Ao entrar na feira eu criei o mote: “Eu revi uma feira de verdade, quando fui visitar Dedé Monteiro”. Mas não escrevi nada a respeito, no entanto me comprometi com o poeta Dedé, que escreverei um poema intitulado “Uma feira de verdade”.

Ainda em Tabira, pela manhã, recebemos a visita do poeta egipciense Vinícius Gregório, que juntamente com Dedé Monteiro e Felipe Júnior, foi conosco até a cidade de São José do Egito. Felipe Júnior e Vinícius Gregório, filhos de São José do Egito, foram nossos cicerones na terra dos famosos repentistas.

Antes de chegarmos à cidade propriamente dita, conhecemos o restaurante “Casa de Taipa”, um local onde se desfruta das características de uma autêntica casa do homem do campo. Além do reboco de barro nas paredes, encontramos objetos tradicionais da zona rural sertaneja – cabaças, pilão, ferro à carvão, urupemba, abano, chaleira, chapéu de palha, bainha, ralador, chocalho, cartucheira, gibão, etc. – e bastante cordéis pendurados. Aproveitei e vendi alguns de minha autoria ao proprietário do restaurante, o qual solicitou a mim e a Dedé Monteiro, que fizéssemos os lançamentos dos nossos livros lá. Eu achei a ideia excelente.

Do lado de fora do restaurante existe um carro de boi, mas essa “Casa de Taipa”, apesar de muito bem organizada, é só figurativa, pois nela as paredes são de alvenaria e há a presença da modernidade, como televisão, som, antena parabólica, etc.

Chegando à cidade de São José, visitamos o “Beco de Laura”, rua onde as paredes das casas são ornamentadas com poesias dos poetas egipcienses, atuais e do passado. Só lamentamos que a mesma não esteja recebendo o tratamento devido pelo poder público local, pois há aspecto de abandono e desleixo com um trabalho tão importante para a cultura nordestina. Inclusive constatamos a derrubada de uma parede, onde havia poesias, para colocação de um moderno portão de garagem, algo que deveria ser proibido por Lei Municipal.

Visitamos a “Casa do Repente - Lourival Batista – O Louro do Pajeú”, residência do saudoso poeta, onde tiramos foto com seu neto, o músico Miguel Marinho. Miguel é filho da cantora Bia e do saudoso poeta, cantor e compositor Zeto. Atualmente Miguel faz parte do grupo “Encanto e Poesia”, juntamente com seus irmãos Greg e Antonio Marinho.

Após o almoço, visitamos o casal de poetas, Zé Silva e Beatriz Passos (pais dos poetas Lamartine e Marcos Passos). Aí o cancão piou! Além da maravilhosa recepção, esse “casal da poesia”, ainda improvisou um recital da melhor qualidade. Pense num momento espetacular! No terraço da casa, Dedé Monteiro, Felipe Júnior, Vinícius Gregório, eu e o genial casal de poetas.

Era mais ou menos, duas horas da tarde. O sol torrando o calçamento, com seus quarenta graus, e a poesia rolando no centro. Uma cena que merecia ser gravada e filmada, mas ninguém se preparou para isso. Só tiramos fotos. Dona Beatriz estava numa felicidade que dava gosto de ver. E também de ouvir suas geniais poesias. Seu Zé Silva, estava mais animado que mosquito em pão doce!

Nos olhos de todos os poetas havia um brilho só. Era o prazer de ouvir e declamar. As poesias dos anfitriões eram sensacionais. Eu tinha sido informado de que eles (Dona Beatriz e Seu Zé Silva) eram grandes poetas e declamadores, mas ver e ouvi-los é algo espetacular. Suas mentes pareciam ferver. Eram as genialidades à toda prova. Sem contar que eu já estava ao lado de três grandes poetas (Dedé, Vinícius e Felipe). Marcos Passos morreu de inveja porque não estava mais lá. Havia viajado para o Recife.

Para finalizar esse passeio indescritível, o nosso poeta maior, Dedé Monteiro, fechou o nosso encontro poético com essa maravilhosa glosa de improviso:

Penúltimo dia do ano,

Quarta–feira colorida.

A esquina da saudade

Enriqueceu nossa vida

E o casal da poesia

Abençoa a nossa ida.