COCA-COLA FAMÍLIA?!...



 
A mulher do Seu Zeca da Venda era muito ambiciosa, queria ser rica e importante, vivia enchendo a cabeça dele com coisas esquisitas, dizendo que Seu Zeca poderia conseguir tudo se fosse político. Dona Santinha desejava ter uma vida cheia de luxo e riquezas, empregados de todo tipo, robe de cetim, cadeira de balanço para cesta.
Seu Zeca se convenceu e foi à cata de um Partido que desse condição a ele se candidatar, não demorou já estava candidato à prefeito com ajuda de alguns amigos, todo satisfeito, levou para casa os papéis da candidatura, só faltava Dona Santinha fazer a sua parte, ela pulava de alegria, toda satisfeita começou a mexer seus pauzinhos, arrumou algumas amigas e foi de cabeça na campanha do marido, fez o Diabo para Seu Zeca ser eleito, vela para as almas, novena para Santa Bárbara, tudo para conseguir os votos.
Seu Zeca tomou gosto, se animou e começou a trabalhar pela sua candidatura, formou um grupo de amigos, daqueles, que são sem ser, só se ganhar eleição. Começaram as promessas: telhado para casa inteira, conjunto para banheiro, terreno, tijolo, etc.
Prometeu até almoço de graça para o dia das mães, tudo depois das eleições. Estava bem nas pesquisas, chegou o dia das eleições, no final do dia já estava tudo definido, Seu Zeca eleito, não teve muitos votos porque a cidade tinha poucos habitantes.
Vitorioso Seu Zeca começou a comemorar com os amigos, pinga e carne de bode. Passado a primeira emoção. Começaram a pensar na posse. Dona Santinha preocupada com o traje, afinal tinha engordado na Campanha. Seu Zeca começou a pensar no traje e em arrumar logo a secretária, pensou em joaninha, desistiu, perna fina, Mariazinha da escola, também não, cara cheinha de espinha e dente torto, até que esbarrou na Rosinha, essa sim, cintura fina e algumas coisas avantajadas, só o cabelo não combinava, era meio vai com Deus, isso não tinha importância, depois ia na capital esticar os cabelos dela, com o dinheiro prefeito dava para isso e muito mais. Rosinha, não tinha um tostão furado, logo topou a situação e começou o idílio.
No dia da festa Seu Zeca todo elegante ria à toa, tomou posse na Prefeitura com Dona Santinha ao lado, ele todo encabulado, mas tinha que ser, era sua esposa, de papel passado e padre. não tinha importância, porque o melhor da festa era com Rosinha mulher cheirosa de pó de arroz e extrato Royal Briar, tinha na feira para vender.
Seu Zeca prefeito assumido, Comprou uma casa para Rosinha, jogo de sofá, cama e fogão. Dona Santinha satisfeita dizia: Político é isso mesmo, comprou uma boa casa, com tudo novo, da sala à cozinha, cadeira de balanço nova para cesta, encomendou na capítal uma dúzia de robe um de cada cor, todos de cetim Dulchese.
Faltava apenas mais atenção do senhor prefeito, Seu Zeca, que não lhe dava a mínima. Na política é assim mesmo dizia ela conformada. Afinal das contas já tinha empregada, lavadeira e estava procurando uma cozinheira, porque estava enjoada de carne guisada, galinha à cabidela, queria novos quitutes.
Falando em diversão, era com Rosinha que ele cumpria os deveres Políticos, viagens, etc. Dona Santinha se sentia conformada, porque o bom político é assim mesmo, precisava de uma secretária eficiente. Certo dia Seu Zeca Prefeito com agenda cheia de compromissos e cansado da viagem que fez à Capital, vinha com Rosinha, a Secretária parou para almoçar, pediu o cardápio, fez o pedido, galinha à cabidela e bode guisado o garçom muito amável perguntou, o que iam tomar.
Seu Zeca pediu uma Coca. O garçom na sua simplicidade perguntou: “Coca família ou pequena?” e seu Zeca respondeu: “A família tá em casa, essa é a rapariga”.
 
 
 
       (Retirado do “Anuário Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro 2004”)

Lidia Albuquerque
Enviado por Lidia Albuquerque em 01/02/2010
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