O DIABO NA GARRAFA

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No último ano de minha regência, trabalhei com meus alunos em um projeto, cuja finalidade era o resgate de contos, mitos e lendas da nossa terra, que têm sido recontados ao longo de nossa história pela tradição oral. E, por fim, registrarmos o material colhido em um livreto.

Foi assim que confirmamos o conceito de que as lendas e crendices de nossa gente são incontáveis e lindas por sua cativante ingenuidade. A qualidade mais preciosa da arte popular é a ingenuidade. É uma qualidade saborosa.

 Hoje, revendo algumas crendices, não consegui conter o desejo de lhes contar, com sua devida licença, um episódio que me foi narrado por um senhor da Mata de Minas, residindo, há muito anos, em minha cidade.

Segundo seu Joaquim, a gente que vivia na região mineira do Vale de São Francisco, chamava de «famaliá» um diabinho preto, que se conservava preso dentro de uma garrafa. Quem estivesse precisando de dinheiro era só pedir a ele que o dinheiro aparecia na hora.

Se, por acaso, você estiver necessitando de um dinheirinho e quiser aprisionar um famaliá, seu Joaquim tem a receita de como apanhá-los, isso mesmo, apanhá-los, ou seja: não um, mas, dois deles; e colocá-los dentro da garrafa. É assim:

Mate um gato preto e tire-lhe os dois olhos.

Ponha cada olho dentro de um ovo de galinha preta.

Enfie os ovos dentro de esterco de cavalo, que ainda esteja quente.

Todo dia, vá até perto do monte e diga: Ó, diabão! Eu te entrego estes dois olhos de um gato preto para que me sejas favorável nesta apelação: Que deles nasçam dois diabinhos para eu cria-los dentro de uma garrafa e me darem dinheiro na hora da precisão.

Diga isso durante trinta dias. Ao fim desse tempo, nascem dois diabinhos. Coloque-os dentro da garrafa e os alimente com pó-de-ferro ou aço moído (Bombril).

Depois é só pedir dinheiro, que o vil metal aparece na hora.

Mas, nem por sombras, poderíamos imaginar o que iria suceder aos gatos pretos se esta receita chegasse a Brasília. Ou poderíamos?

Salve-se o gato que puder! ®Sérgio.

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Se você encontrar erros (inclusive de português), relate-me.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 19/08/2006
Reeditado em 31/05/2013
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