CAPÍTULO I - Diário Poético-Sentimental de Uma Greve: Curiosidades, Emoções e Poesia na Greve do Judiciário Trabalhista Mineiro.

Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento.

Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem

(Bertolt Brecht)

I

18 de maio: manifestação em frente ao prédio da primeira instância do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 3ª. Região, com a participação de mais de 500 servidores.

É difícil saber quando uma greve toma de fato o peito e o coração da gente. Em mim esse fenômeno aconteceu por volta do dia 14 ou 15 de maio.

O sentimento da greve aparece inicialmente em nós de forma muito semelhante a qualquer outro sentimento: vem surgindo e aportando lentamente e traz consigo receio e desejo. É possível fazer um paralelismo entre os sentimentos que explodem na greve e os do amor.

Por exemplo: antes mesmo de começarmos a amar já pressentimos que a força desse desejo e dessa necessidade já existiam há tempos dentro de nós. E que esse afeto só esperava o objeto certo para se manifestar.

Existem, porém, outras semelhanças entre as duas emoções: o movimento grevista é das coisas mais difíceis que existe, principalmente no seu início. Mas quem teria a coragem de afirmar que o amor também não o é? E que amar muitas vezes não nos chega a doer na alma e na carne? E como não reconhecer também que o início do amor muitas vezes se revela difícil e árduo?

Pois é isso: parece-me que a greve tem de fato muito do amor. Como uma amada, por exemplo, a greve sempre exige coisas de nós e, não raro, tende a nos pedir exatamente aquilo que temos de melhor.

A greve determina, antes de qualquer outra coisa, uma mudança brusca na rotina e na nossa maneira de ser, de perceber a vida e de conviver no mundo. O normal é que ocupemos parte dos nossos dias na elaboração de algum trabalho produtivo. Então, quando o “não trabalhar” e o “não se ocupar” é que passam a representar a única forma possível de demonstração e escolha, esse fato costuma torcer a cabeça e – por que não dizer logo - adoecer os pensamentos e os sentimentos de uma pessoa.

É também por esse motivo que uma greve sempre vai representar inicialmente uma verdadeira revolução interna nas escolhas e opções de um indivíduo. Antes de se extravasar ao mundo exterior, a greve te impõe um preço e uma escolha interna: participar ou não participar. E essa é provavelmente uma das opções mais difíceis de ser tomada no mundo do trabalho.

Ela é complicada exatamente por apresentar uma série de riscos: a perda salarial dos dias parados; o confisco de uma gratificação que certamente fará falta no conjunto da nossa remuneração; a possibilidade de termos as férias adiadas em decorrência do excesso de trabalho no pós-greve, etc.

Nessa escolha cada um de nós mede aquilo que poderíamos chamar simplesmente de vantagens e desvantagens, calcula a possível margem de erro e... se arrisca ou não, abandona ou não o casulo da sua pseudo-segurança!

E não é o mesmo quando nos referimos ao amor? Diríamos que ou o sujeito se lança de cabeça nos seus sentimentos e emoções ou foge assustado e temeroso diante da figura real e nua da mulher amada.

Ontem eu percorri sete varas do trabalho no objetivo de ter uma idéia real acerca do andamento da greve em Belo Horizonte. Conclusão: cinco dessas varas estão em greve acompanhando as determinações constantes da portaria publicada pela Presidência do TRT no dia 13 de maio.

Já numa das outras duas secretaria não havia nenhum servidor em greve e na última apenas dois servidores se encontravam em greve: um assistente do juiz e um assistente da diretoria.

Luís Antônio Matias Soares
Enviado por Luís Antônio Matias Soares em 04/08/2010
Reeditado em 05/08/2010
Código do texto: T2417415
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