CAPÍTULO II - Diário Poético-Sentimental de Uma Greve: Curiosidades, Emoções e Poesia na Greve do Judiciário Trabalhista Mineiro

II

Realmente, vivemos em tempos sombrios.

Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,

Uma testa sem rugas denota insensibilidade.

Aquele que ainda ri é porque não recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses em que falar sobre flores é quase um crime,

Pois significa silenciar sobre tantas injustiças?

Aquele que cruza tranqüilamente a rua

Já está então inacessível aos amigos

Que se encontram necessitados?

É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.

Mas acreditem: é por acaso. Nada do que eu faço

Me dá o direito de comer quando eu tenho fome.

Por acaso estou sendo poupado.

(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

(Bertolt Brecht)

Um importante aspecto a ressaltar em relação à greve refere-se ao fato de que depois de cada ato ou manifestação seguimos sozinhos no caminho das nossas casas e ali permanecemos meio que sem saber o que fazer. A verdade é que muitas vezes demoramos a nos adaptar à rotina da greve.

Para remediar esse fato e preencher a mente e o tempo ocioso, talvez seja interessante lembrar que vale a pena (depois dos atos e manifestações de rua) percorrer amigável e pacificamente os locais de trabalho dos colegas que ainda não tenham aderido à greve e solicitar-lhes a presença ao menos nas manifestações.

Como podemos observar, a greve é uma escolha e uma construção ao mesmo tempo pessoal e coletiva e demanda tempo. É também uma contradição difícil de ser resolvida tanto dentro do pensamento quanto em relação aos sentimentos dos manifestantes.

Algumas vezes, no entanto, concluiremos que teremos inevitavelmente que participar de uma greve, isto é, teremos que escolher deixar de trabalhar para garantir que a dignidade e o nosso suor de cada dia sejam respeitados e devidamente remunerados.

Por outro lado, temos plena consciência que ao retornar ao trabalho – dias, semanas ou meses depois, dependendo do montante de tempo que vier a durar as negociações e o movimento de greve em si – haveremos de encontrar todo aquele serviço acumulado nos observando bem de pertinho e meio que sem jeito aguardando que o tomemos nas mãos como filho legítimo que é, ainda que colocado momentaneamente de lado.

E o fato é que sabemos que teremos de dispor todo aquele trabalho de volta no necessário caminho do amor e na corrente impetuosa daquele rio que por algum tempo se viu obrigado a estar fora do seu curso e de seu leito.

Luís Antônio Matias Soares
Enviado por Luís Antônio Matias Soares em 05/08/2010
Reeditado em 05/08/2010
Código do texto: T2419395
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