Diferente

Temos dificuldades em lidar com as diferenças dos outros e também em aceitá-las, sejam elas vísiveis ou não. Contudo, a diferença não pode só ser vista pelo lado negativo. Quantas vezes não gostaríamos de ser diferentes...de nos distinguirmos por esta ou por aquela qualidade que não temos. E quando temos uma diferença desejaríamos não tê-la, porque ela nos distingue, nos discrimina...faz com que olhem para nós com pena e outras vezes com indiferença.

Somos diferentes e é com as nossas diferenças e com as dos outros que temos que viver.A diferença tem apenas o valor que lhe quisermos dar.

Gosto de pensar que é preciso 'olhar o outro' com os olhos do outro. Não apenas com os nossos.

Tarefa difícil é ser humilde. Talvez, com um esforço sincero, possamos ser. Pelo menos 'um tiquinho de nada'... E 'olhar o outro' requer esse 'tiquinho de nada'. Esse esforço sincero...

SOMOS TODOS DIFERENTES, ainda que sejamos todos iguais. Nossa sociedade ainda conserva (pré)conceitos historicamente cristalizadas sobre quase tudo: negro, índio, pobre, deficiente físico, deficiente mental, nordestino, homossexual, empregada doméstica, gordo, idoso etc. A coisa toda tem a ver com a maneira como as pessoas aprenderam a ver o outro. A questão é: sob que prisma a sociedade aprendeu a enxergar o outro?

Toda a educação nacional foi elaborada e desenvolvida para manter a mente engessada. O individuo foi domesticado e doutrinado. Ele não aprendeu a pensar. Apenas apreendeu pensamentos. Assim, certo é o que alguém determinou que é certo. Do mesmo modo, errado é o que alguém determinou que é errado.

Essa mesma lógica vem para as relações humanas e valorização do potencial humano. O feio (aquele que não atende aos padrões de beleza ditados pela sociedade) é falto de inteligência, é inabilitado, é incompetente, é indigno.

Logo, se não se encaixa, não serve. Se não serve, tem que ser deixado de lado — à margem.

Essa rejeição é manifestada de várias formas, porém uma das mais claras é quando as portas se fecham para a escolarização e para a carreira profissional. É quando o indivíduo é privado do seu direito.

Não se pode esperar que todos sejamos iguais a fim de sermos aceitos. No mundo em que vivemos nem os gêmeos são iguais. Somos indivíduos, portanto, seres individuais, únicos, com características próprias no que tange a maneira de ser, de pensar, sentir, agir e reagir a tudo e a todos. Nesse sentido não há certo nem errado. Há apenas o diferente.

São conceitos, formas de pensar e de ver o mundo que precisam mudar. O ser humano é criativo e capaz. Uma deficiência, embora real, não significa absoluta incapacidade, mas, apenas e tão somente uma determinada limitação. A cor da pele, a condição sócio-econômica, a origem de uma pessoa, uma deficiência física, nada disso é determinante para se rotular o sujeito como inapto, incompetente, indigno. Alguém pode não ser capaz de usar as pernas, mas pode usar os braços, as mãos, a voz etc. Outro pode não ser capaz de usar a voz, mas pode usar as mãos, os braços, as pernas etc.

É mais fácil discriminar, segregar, marginalizar e excluir, que compreender, aceitar e incluir. O gordo é discriminado por ser gordo, o negro por ser negro, o pobre por ser pobre, o surdo por ser surdo e assim por diante. Logo, ser diferente em nossa sociedade é ser defeituoso, é ser excluso, é não ter direito a ter direitos.

Na verdade vivemos um paradoxo. Pois, somos todos diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais.O Universo é imenso e nessa imensidão são as diferenças que permitem que ele seja o que é — universo.

O mundo muda a todo instante. Tudo na natureza se ajusta a fim de que a vida possa continuar o seu curso.