SÓ DE MENTIRINHA...


            Vou começar essa crônica com uma mentirinha básica. E vocês vão me permitir esse deslize. Porque é próprio dos poetas fantasiar, iludir. E aquele que engana ou ilude, está mentindo. Já dizia Fernando Pessoa que “o poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”. E olha que ele entendia bem disso, porque fingia ser três (além dele próprio) e, mais que fingir, ainda adotava a personalidade daqueles que dizia ser. Mas isso é coisa para gênios!
            Eu, cá da minha insignificância, tenho esse fingimento todo não, sô!
            Nas minhas cronicazinhas, vez por outra, digo o que não penso, dou uma enganadinha aqui, outra ali, mas só em coisas que não comprometem! Prá florear um pouco, deixar o texto bonito, truques de quem tem intimidade com as palavras. Mas mesmo nas minhas floreadas, tem sempre um fundo de verdade e acabo convencendo as pessoas cheias de sinceridade e boa fé.
            Mentiras e verdades são muito próximas umas das outras e eu diria que até em certos momentos coexistem. Por exemplo: eu disse lá em cima que daria inicio a esse texto com uma mentirinha básica e só falei a verdade até agora. Se eu não cumpri o prometido ou não fiz o que era de se esperar, foi deliberadamente, na intenção de iludir. E se eu iludi, se usei de malogro ou se fui sincera, poucos saberão. Porque às vezes, até eu me perco na tentativa de ir a fundo de mim mesma e então “dar de cara” com as minhas verdades.
           

By Angela Ramalho

Cronica ganhadora da Taça de Prata no Blog BVIW tecendoletras