ENTRE TANTOS AIS

           Ai, ai, ai! Todo santo dia vejo um chorando aqui, outro reclamando ali. Cada um com suas dores. Mas muitas vezes percebo que são dores tão pequenas! Eu que trabalho num hospital, diariamente convivo com dores de todas as grandezas e quando ali estou, percebo o quanto são insignificantes os meus ais.
          Nessas horas, observo como me fortaleço com as dores alheias. As dores de verdade. Porque um chorinho para fazer manha, todo mundo faz. Reclamações por um tiquinho de nada, na maioria das vezes para chamar atenção.
          Mas dor não é isso não, minha gente. Estou com uma criança no hospital internada há quase quarenta dias. E não é a primeira vez. No ano passado, essa mesma criança, entre novembro e dezembro, permaneceu 35 dias conosco, sempre tendo a mãe como acompanhante.           
          Observo nessa mulher uma fortaleza invejável! Vejo que ela tem dormido todas essas noites numa cadeira ao lado do filho, sem nenhum conforto, mas não reclama um só instante. Sempre serena, ajuda o filho em suas necessidades, acompanha as tarefas escolares no hospital, sai com o filho para a sala de TV, enfim, está perfeitamente familiarizada com aquele ambiente, como se ali fosse sua casa. Não sei se eu teria esse desprendimento. Talvez isso não fosse assunto para uma crônica, mas é lição de vida.
           Quando penso em reclamar de algo, sempre me vem em mente essa mãe e seu semblante de paz interior. Então, eu agradeço a Deus não ter problemas de nenhuma ordem. Só coisinhas corriqueiras, que eu mesma resolvo.
 
By Angela Ramalho
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