É preciso coragem!

Amo a Martha Medeiros!

Indiscutivelmente é uma das maiores cronistas do país, se não a maior. Sempre compro jornal aos domingos e, a primeira coisa que faço antes de ler qualquer matéria, é procurar sua crônica.

No último domingo ela escreveu sobre a coragem. Aliás, esse era o título da crônica: Coragem. Essa palavra é tão forte quanto o seu significado, ou seus significados. Verificando os principais dicionários o verbete apresenta muitos sinônimos: firmeza de ânimo, energia ante o perigo, os reveses, os sofrimentos físicos ou morais, intrepidez, ousadia, bravura, perseverança, valor, ânimo. O indivíduo corajoso é aquele que enfrenta tudo sem medo. Mas o que é o medo? Óbvio seria responder: é a ausência de coragem. Mas não é tão simples assim.

O medo é uma manifestação mais biológica do que psicológica, embora as duas estejam sempre associadas. A sensação de medo envolve uma série de processos bioquímicos com a liberação de determinadas substâncias entre elas a adrenalina. Na realidade, o medo funciona como um aliado do organismo diante de situações de perigo. Em doses equilibradas o medo é benéfico ao indivíduo na medida em que impede que ele se coloque demasiadamente em riscos. Porém, como todo excesso é prejudicial, a pessoa medrosa sofre muito porque não consegue, às vezes, fazer coisas simples. O medo é a causa (muitas vezes inconsciente) do impedimento de tomada de atitudes, do enfrentamento de situações inócuas, ou seja, que não oferecem perigo algum.

E a coragem? Não seria também uma manifestação biológica? Sim, até seria, mas a coragem é consequência de um desejo consciente, de uma atitude psicológica, da determinação do indivíduo em fazer algo.

Martha confessa em sua crônica, que sempre foi uma criança medrosa, que deixou de aproveitar muitos passeios em família por ter medo de andar de barco, de helicóptero, de fazer escaladas. Também tinha medo de andar de bicicleta longe de casa, de descer em tobogã e até de colar em provas da escola. Carregou alguns medos para a idade adulta, mas descobriu-se corajosa para enfrentar outras situações. Segundo ela mesma diz: “Coragem mesmo é preciso para viajar sozinha, terminar um casamento, trocar de profissão, abandonar um país que não atende seus anseios...E, principalmente, coragem, para enfrentar a própria solidão e descobrir o quanto ela fortalece o ser humano.”

E é aí que entra essa cronista aqui. Quando terminei de ler minha querida autora, imediatamente pensei em escrever uma crônica baseada na dela. Mais que uma inspiração, Martha me deu coragem para falar de minha própria coragem. Ela fez com que eu sentisse um orgulho danado de mim mesma, por ter conseguido enfrentar um dos inimigos mais poderosos que uma pessoa pode enfrentar.

Há sete anos descobri que tinha câncer de mama. Foi uma cacetada receber o diagnóstico e imaginar por que procedimentos eu deveria passar para me curar. No primeiro instante a gente sempre pensa: “Não vou conseguir.”. E, não se sabe de onde, surge uma força que te impulsiona e te diz: “Vai sim, você vai conseguir!”. Seria preciso muita coragem para encarar cada etapa, algumas muito dolorosas, mas extremamente necessárias. E eu tive essa coragem. Foram cinco anos de tratamento, de controle e, finalmente, a liberação da oncologista. A médica me disse a frase mais linda que já ouvi em toda minha vida: “Você está curada!”. Mais do que um “eu te amo”, mais do que um pedido de casamento, mais do que ganhar na loteria, receber a notícia de estar livre do câncer foi, com certeza, o momento mais feliz da minha vida. Mas, se eu não tivesse tido coragem para enfrentá-lo, se eu tivesse desanimado no meio do caminho, se não tivesse feito tantos sacrifícios (moro no interior e o hospital é na cidade do Rio de Janeiro), talvez hoje não estivesse aqui escrevendo esse texto.

É preciso coragem também para falar sobre isso, porque a sociedade ainda tem dificuldade para lidar com esse assunto. Muitas vezes por falta de informação ou por preconceito. Há pessoas que nem dizem a palavra câncer. Quando se referem à doença falam “aquela doença horrível”. Sim, é horrível, mas pode ser evitada e, em muitos casos, curada. As pessoas precisam ter consciência de que precisam fazer a prevenção e, quando ela já está instalada, fazer o tratamento o quanto antes. O que não pode é perder a esperança, não pode deixar de ser otimista, não pode perder o bom humor, não pode perder a alegria de viver, enfim, não pode jamais perder a coragem de lutar até o fim, seja ele qual for, o da própria doença ou o fim de sua vida.

Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 04/07/2012
Reeditado em 04/07/2012
Código do texto: T3760694
Classificação de conteúdo: seguro