LIBERDADE!

     A palavra liberdade sempre me provocou uma inquietação. Desde pequena, ao ouvi-la, imaginava-a como uma das grandes conquistas da vida de uma pessoa. Eu pensava, por exemplo, que aos dezoitos anos, eu seria livre para fazer o que quisesse e o que bem entendesse, mas não foi bem assim. A vida adulta me prendeu a muitas responsabilidades que eu não conhecia. E, à medida que o tempo foi passando, outras “prisões” foram surgindo e a total liberdade nunca foi alcançada.
   Ainda menina, em minhas aulas de História, lembro-me de quando a professora falava sobre a libertação dos escravos, e que eu sentia uma alegria imensa por eles: “por fim acabaram-se as torturas, a exploração, a desumanidade...”, porém, mais tarde compreendi que eles foram libertos apenas de seus Senhores, mas tornaram-se escravos do analfabetismo, do sub-emprego, da falta de oportunidades. Tornaram-se vítimas do preconceito, da discriminação, da segregação social.
     Quando cheguei à adolescência, ouvia as discussões sobre a Democracia. O Brasil era governado por militares, num regime ditatorial que perdurou por longos vinte e um anos. O povo não tinha o direito de escolher seus governantes, como não tinha o direito de protestar contra o autoritarismo, a carestia, de se expressar artisticamente, de exercer a cidadania. Tudo era censurado: a imprensa, o cinema, o teatro, a música, e até a vida do indivíduo comum. Foi uma época dura para o país, que fez crescer na população uma ânsia por liberdade. Foi quando surgiram grandes movimentos, sendo um dos maiores o “Diretas já”.
     Passamos a eleger o Presidente da República e outros representantes, como adquirimos tantos outros direitos, renovados e legitimados pela Constituinte de 1988, que apresentou ao país uma nova Constituição. Essa, em seu Artigo 1º, enuncia: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I- a soberania; II- a cidadania; III- a dignidade da pessoa humana; IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V- o pluralismo político. Parágrafo único: Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
     Mais uma vez a palavra liberdade vem me inquietar e confundir. Ora, se somos um país democrático, se a Constituição nos garante todos esses direitos, como ainda carregamos o eterno título de país em desenvolvimento? Como ainda não nos libertamos de velhas práticas, de antigos problemas, de códigos e leis obsoletas e ultrapassadas?
     A nossa soberania não é tão nossa assim, visto que ainda obedecemos à regras internacionais, tanto políticas, quanto de economia e mercado. E ainda vemos, sem nada fazer, empresas e instituições internacionais se apoderarem de nossa Floresta Amazônica, explorando nossas riquezas, desviando nossos recursos, destruindo a fauna e a flora, com a desculpa esfarrapada de estarem pesquisando fontes alternativas para o futuro do planeta.
   Há cidadania, onde, se parte da população ainda vive em bolsões de pobreza, sem direito à água encanada e ao saneamento básico, sem acesso a serviços essenciais? A Educação, talvez o item mais importante na vida de um povo, porque um povo educado sabe reconhecer e exigir seus direitos, está a milhares de quilômetros de distância da que é praticada nos países desenvolvidos.
     E onde está a dignidade da pessoa humana com tanta gente morrendo em filas de atendimento dos hospitais, ou esperando meses por uma consulta, por exames e cirurgias, nas intermináveis listas de espera do SUS?
     O que dizer dos valores sociais do trabalho, quando o salário mínimo pago no país, não dá para as despesas mínimas de uma família, enquanto os “nobres colegas” ganham milhares de reais e ainda possuem grandes mordomias?
     A livre iniciativa dá ao cidadão comum a possibilidade de empreender e criar seus próprios negócios, basta arcar com a pesada carga tributária imposta pelo governo. Ele, o empresário, que se vire e faça milagres.
   Por último, o pluralismo político, essa bagunça generalizada de tantos Partidos, que só faz confundir o povo e nenhum resultado concreto traz à nação, a não ser mais despesas. É “P” disso, é “P” daquilo, com ideologias diferentes, mas todas a serviço de um único objetivo: se dar bem à custa do povo já tão calejado de ouvir promessas e passar pelas mesmas dificuldades de sempre.
    Não é essa Democracia pela qual esperamos durante tanto tempo. Não é dessa liberdade que precisamos. O que adianta sermos livres para escolhermos nossos representantes, se quando recebem o poder que a eles delegamos, não fazem o que tem de ser feito? Não quero dizer com isso que preferimos as antigas regras da ditadura. Deus nos livre! Entretanto, queremos que as pessoas que elegemos cumpram seu papel com honestidade, com vontade política de promover de fato o desenvolvimento, sem colocar seus interesses pessoais à frente dos interesses da população.
    A liberdade que penso hoje é a de ver um país sem corrupção, sem violência, sem desemprego, sem miséria. A liberdade que sonho é a de ver o povo saudável, com um Sistema de Saúde que seja, de fato, voltado para a saúde, pois o que temos é um Sistema de Doença. Quero uma Educação Pública de qualidade, livre de ações paternalistas e ilusórias, que fazem os jovens acreditarem que estão preparados para o competitivo mundo do trabalho, mas se decepcionam quando são descartados nos exigentes processos seletivos das empresas.Quero mais apoio aos outros esportes, porque já está mais que na hora de deixarmos de ser apenas “o país do futebol”. Quero mais incentivo à cultura e às diversas formas de arte. Enfim, quero meu país livre da demagogia desses que se dizem brasileiros mas que, no fundo, não passam de oportunistas e mercenários.
     Quero liberdade e não libertinagem!
 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 19/07/2012
Reeditado em 19/07/2012
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