LEMBRANÇAS DE WALDIR PIRES

 
Durval Carvalhal



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          A decepção política é generalizada e imensa, porque se solidificou como um campo de batalha sem ética, sem princípios e sem a marca do sacerdócio na causa pública. Os nossos heróis de ontem, que tanto os defendemos, são os mesmos que, hoje, praticam e defendem as imoralidades de outrora, e com o agravante de fazer pior.
          Portam-se como certos policiais, que recebem salários para ser o escudo da sociedade, acabam desviando-se de tão nobre missão de proteger a população e a agride, a violenta e a assalta, tornando-se, no dizer de um governador de estado, “bandidos ao quadrado”.
          Diante desse quadro de incredulidade e decepção política, estava decidido a votar NULO nas próximas eleições municipais, malgrado a existência de alguns bons nomes, como Waldir Pires, Edvaldo Brito e Hilton Coelho.
          Mas, atendendo ao pedido de uma grande amiga-escritora e cunhada de Waldir, mudei de posição, e resolvi votar no ex-governador Waldir Pires.
          Em recente evento social promovido pela dileta amiga Cleti Uzeda, do qual também participou o lendário político, disse-lhe, na sua chegada, depois que ele fidalgamente me cumprimentou: “Conheço o senhor de longas datas”. Ele sorriu, não o sorriso da hipocrisia e do deboche, mas o sorriso de quem sabe que cumpre uma nobilíssima missão, e foi conversar com outras pessoas.
          Tarde da noite, antes de me retirar, em conversa reservada, lembrei-lhe: eu era estudante de economia na Ufba na década de 70, quando o senhor [...] (Waldir tem 85 anos, e antes que ele se sentisse idoso, antecipei-me: senhor é uma maneira carinhosa de conversar com as pessoas). Ele gostou da explicação, franziu a testa e sorriu mais uma vez. Ato contínuo, prossegui: [...] retornou do exílio e proferiu uma bela palestra no auditório da Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia. Lembro-me que, no final, o senhor, andando em retirada pelo salão da associação, e com a imponência de Zadig, personagem de Voltaire em Cândido ou o otimismo, exclamava: “O capitalismo é inviável no Brasil!”.
          Continuei parabenizando-o pela candidatura à vereança de Salvador. Disse-lhe que a presença dele, na Câmara Municipal da cidade, seria profícua, enriquecedora e qualitativa, e que todos ganharíamos com a sabedoria e o legado que ele iria deixar. Incontinente e com fina sabedoria, Pires retrucou: “Da Câmara Municipal, poderemos mandar recados para República!”.

          Dessa forma, fica confessado, pois, o meu voto a WALDIR, o PIRES que ainda sustenta e protege a xícara da dignidade pública no Brasil.

 
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 06/09/2012
Reeditado em 15/08/2019
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