Crônica de uma sala de aula - Capítulo II

II

E no próximo capítulo...

Eis que o dia seguinte era nada mais e nada menos do que um daqueles fatídicos sábados letivos deste “abençoado” semestre pós-greve.

Era sábado e caia uma chuvinha fina e persistente. O horário inicial pertencia à disciplina Oficina de Texto Literário e o outro à Sociolinguística da professora Juliana.

Coincidência ou não, o tema da segunda aula fora exatamente aquele da discussão constante do capítulo anterior. Seria realizado um seminário sobre o livro “Preconceito Linguístico” do tal Marcos Bagno.

Portanto, logo depois da aula da Ana Virgínia deu-se início ao seminário. A ideia era ir discutindo mito por mito, na sequência exposta no próprio livro do educador: mito no. 1, mito no. 2 e assim por diante.

E enquanto a discussão e o debate prosseguiam, nos esquentávamos e nos aquecíamos um pouco naquele dia frio e nublado. Mas em certo momento, para dar fechamento ao mito de no. 7 e pularmos para a análise do último mito, a nossa Gledes fez a leitura do trecho do livro que se encontra na página 87:

“Ora, para aprender história, geografia, física, química etc. é preciso ter um domínio poderoso da leitura e da escrita (e das habilidades matemáticas), porque todos esses conteúdos são transmitidos por meio da linguagem”.

E – finalmente! - para concluir o seu raciocínio com chave de ouro, ela acrescentou ao texto de Bagno algumas palavras de sua própria lavra e autoria:

- Ora, gente, com isso acabou-se tudo! – afirmou satisfatoriamente esfregando as mãos e lambendo os beiços.

Neste ponto, como ocorrido na passagem bíblica na qual o Espírito de Deus teria pairado sobre as águas, em nossa sala de aula aconteceu algo parecido.

Um silêncio assombroso se fez e perdurou durante alguns segundos exatamente como o silêncio deve ter ocupado igualmente os últimos instantes antes da criação da Terra, da Vida e do Universo.

A diferença é que no nosso caso havia um som que se ouvia por detrás de todo aquele silêncio. Era o giro lento e uniforme das hélices dos ventiladores pendentes do teto da sala.

Mas da voz humana não se ouvia nem um tinir. Estávamos todos muito concentrados e atentos na sensação de que parecia faltar alguma coisa. Teria a Gledes terminado o seu pensamento ou ainda restava algo?

Ninguém sabia ao certo nem se arriscava a dar prosseguimento ao debate.

E isso se manteve assim até que a Renata Estanislau surgiu como uma heroína disposta a nos tirar daquele impasse. E ela o fez simplesmente dizendo:

- É, gente, acho que dessa forma acabou-se com tudo, com tudo mesmo! Podemos passar para o próximo mito...

Cada um de nós pudera enfim respirar com alívio.

Em seguida foi uma risadaria geral por toda a sala.

O capítulo III será publicado amanhã e trará como protagonista principal o mestre do skate, o nosso Diego.

Então até amanhã...