O "VELA"
O VELA
Madrinha Divina arrumou um namorado.
- Ele chama-se José Bertolino de Souza, mas o apelido é Zé Barnabé.
- É funcionário público, no setor do D.E.R. Está ajudando a construir a estrada Rio-Bahia. É de ótima família, gente séria, meio aparentado do Tõe Joaquim (meu avô), mas longe. É moço direito, trabalhador, de futuro... tratorista! Emprego fixo! Ganha mais que o salário! (Salário mínimo).
Lembro-me perfeitamente de Vovó Rosa assim se expressando. Parece-me ainda ouvir sua voz cândida, cansada, porém vigorosa. Quando chegou a noite, como de costume, lá estava eu na casa da vovó, esperando o papai chegar da fábrica, quando chegou o Zé Barnabé. E quem foi designado para funcionar como “vela”? O Zé Totõe!
Vovó só me disse:
- Zecantõe; sente-se lá naquela cadeira e faça companhia para sua madrinha e para o namorado dela. Mostre como você é um menino educado.
(Para quem não sabe, vela era o nome que se dava àquelas pessoas, normalmente irmãos mais novos, sobrinhos ou mesmo os sogros, que ficavam “vigiando” os namorados - para que não se excedessem nas intimidades - coisa tradicional nas casas das famílias mineiras até meados dos anos setenta)
Confesso que naquela oportunidade eu não tinha a menor idéia do que significava aquilo e não gostei muito da chata incumbência.
Mas, felicidade! Ele, o novo namorado, trazia balas (drops e jujubas - aquelas coloridas, cilíndricas e açucaradas envoltas em papel celofane) para fazer média com a madrinha Divina, e evidentemente, garantir um bom hálito e fazer bonito com a nova namorada.
Nas outras noites, nem foi preciso a vovó Rosa designar-me para tão nobre função. Lá estava eu, solícito, totalmente “desinteressado”, pronto para desempenhar a importante e recompensadora missão de “vela”.
Infelizmente não tenho mais outras lembranças tão claras desta época (1957).
Leopoldina, MG.