Viajando na imaginação
 
   Nestes meus cinquenta e alguns anos de vida, nunca vivi a experiência de viajar de avião. As razões: falta de oportunidade, de grana e de coragem. Se bem que esta última, a falta de coragem, não é um obstáculo dos maiores, porque a vontade existe e, se há vontade, a gente deixa o medo guardado numa gaveta em casa, e vai. Na bagagem, só o necessário: curiosidade, entusiasmo, disposição, vontade de conhecer novos lugares, novas pessoas e de aprender coisas novas.
   Às vezes, fico imaginando quando e como seria a minha primeira vez. Qual destino eu escolheria? Viajaria pelo Brasil ou para outro(s) país(es)? Quem me acompanharia? Seria ótimo viajar acompanhada, principalmente se fosse a lugares românticos.
   Eu sempre quis conhecer o nordeste brasileiro. Já sonhei com as dunas do Rio Grande do Norte, já me imaginei mergulhando nas águas de Fernando de Noronha, já me vi dançando nas festas juninas de Campina Grande na Paraíba, já pensei em velejar pelo mar do Ceará. E a Bahia? Ah, a Bahia é meu sonho de consumo! Carnaval em Salvador, eu no meio da multidão, atrás de um trio elétrico, pulando, cantando, suando, vivendo.  Às vezes penso que já morri. É verdade. Não tem aquela canção que diz “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu...”? Então, me sinto mortinha.
   São incontáveis as cenas em que me vi atuando (não como atriz que, evidentemente, não sou, mas como uma turista qualquer) nas praias do litoral nordestino ou desbravando a caatinga como uma cangaceira (numa versão genérica de Maria Bonita).
   Também gostaria de viajar para o sul. Amigos que conhecem dizem que é lindo e que parece ser outro país. Ainda vou, juro que vou, e cantando assim: “Deu pra ti, baixo-astral, vou pra Porto Alegre, tchau” – Kleiton e Kledir.
   Sei que hoje é muito mais fácil voar. As agências de turismo e a companhias aéreas oferecem pacotes pra todos os gostos e todos os bolsos, com parcelas a perder de vista. Porém, ainda não deu.
   Outro dia, uma pessoa me disse: “Que vergonha você nunca ter voado!” Ora bolas, vergonha? Por quê? Eu e milhões de pessoas não voamos, e não vamos morrer por causa disso. Acho tão engraçado esse povo que “se acha” só porque viajou de avião algumas vezes. Se ainda tivesse ido para Nova York, Paris, Londres ou qualquer grande cidade do mundo na primeira classe, vá lá. Mas, pegou a ponte aérea Rio-São Paulo e já se sente o máximo. É igual aquela expressão antiga que mamãe dizia: “Fulano come mortadela e arrota caviar”. Há, há, há... Só rindo!
   Sempre viajo de carro, raramente de ônibus. Conheço muitas cidades de Minas Gerais e daqui do meu estado, o Rio de Janeiro, inclusive, vou com muita frequência ao Rio. Adoro! Também fui uma vez a Guarapari, no Espírito Santo, uma linda cidade litorânea.
    Agora, eu viajo mesmo é na imaginação, por meio das histórias dos livros que leio. Não faz muito tempo, estive no Japão, em vários países da Europa, em outros da América do Sul, nos EUA e até no Marrocos, com o livro Um lugar na janela (relatos de viagem), de Martha Medeiros. Foi ótimo! Conheci cada lugar incrível, saboreei pratos deliciosos, assisti a shows sensacionais, vi cada esquina de cada cidade como se estivesse lá. A Martha tem esse poder de transportar a gente pra onde quer que ela vá. Ela é tão minuciosa na descrição dos lugares e de suas sensações que parece que a gente está vivendo tudo aquilo de verdade. Quando terminei a leitura do livro, eu parecia “exausta” por ter percorrido milhares e milhares de quilômetros em um só dia, todavia, me sentia extremamente relaxada e feliz.
   Vida que segue. Enquanto não surgir o momento de subir em um avião, vou viajando na imaginação. Até porque é o único meio seguro e ilimitável de voar.
 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 25/07/2013
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