A nova geração: os sexalecentes
 
   Onde estão meus óculos? Eu os esqueci em algum lugar, não me lembro onde foi. Já não bastasse a vista não estar funcionando muito bem, a cabeça também anda me traindo. Tenho de admitir: já estou começando a sentir o avanço da idade. Mas não me dou por vencida. Não vou desistir da vida. Não agora que, finalmente, consegui a aposentadoria. É justamente agora que vou começar a me divertir. Sou uma sexalecente.
   Ah, você não sabe o que é isso? Vou explicar:
   Nós, os sexalecentes, somos pessoas que estamos em torno dos sessenta/setenta anos e que nos recusamos, terminantemente, deixar-nos envelhecer. Sabemos que não somos mais jovens, mas não aceitamos a decrepitude.
 Nós trabalhamos por décadas, criamos nossos filhos, passamos por várias agruras, superamos tantas dificuldades, fizemos nossas economias e agora que não temos mais compromissos, a não ser com nossa saúde, vamos estacionar? De jeito nenhum.
  Queremos tudo o que temos direito. Queremos estar inseridos no mundo globalizado. Estamos aprendendo a lidar com as novas tecnologias, estamos ávidos por informação. Queremos viajar, dançar, frequentar academias, namorar, ir ao teatro, ao cinema, aos musicais e fazer tudo como qualquer cidadão normal e saudável. Queremos e podemos.
   Temos consciência de nossas limitações. Não vamos sair por aí fazendo bobagens como os jovens fazem. Não somos adolescentes inconsequentes. Somos sexalecentes, maduros e responsáveis. Conhecemos e pesamos os riscos de nossas atitudes. Não nos desesperamos mais e não nos pomos a chorar por qualquer motivo. Entendemos que as perdas fazem parte da vida e que nenhum de nós é incólume ao sofrimento.
   Apesar de termos chegado ao que a sociedade costuma chamar de Terceira Idade, não nos sentimos velhos. Aliás, velho é ter preconceito, seja em relação a nós, os mais vividos, ou em relação a quaisquer pessoas que sejam de outra raça, religião, posição social, preferência sexual, etc.
   De um modo geral, temos boa saúde física e mental, principalmente porque os avanços da Medicina têm nos auxiliado na questão da qualidade de vida. É natural que a visão necessite do auxílio de lentes ou que precisemos usar alguns medicamentos para controlar a pressão arterial, os níveis de glicose e de colesterol, porque qualquer organismo sofre um desgaste natural ao longo dos anos, mas isso não significa que estamos ou somos doentes.
   Gostamos de recordar nossa juventude, mas sem nostalgias parvas. Até porque, os jovens também têm seus problemas e alguns já andam cheios de nostalgia.
   Queremos abrir os olhos a cada manhã, olhar para o céu, ver o sol e sair para vivermos mais um dia. Se não houver sol, se o dia estiver chuvoso, não sentimos incômodo nem tédio. Já vivemos tantos invernos, verões, primaveras e outonos que aprendemos a respeitar e a conviver pacificamente com as manifestações da natureza. Percebemos a necessidade e a importância de cada tempo. Se ele não estiver favorável para um passeio, lemos um bom livro, assistimos à tevê, fazemos um trabalho manual ou ligamos o computador para teclar com parentes ou amigos.
   Entendeu o que é sexalecente? Não? Um dia você vai chegar lá e vai entender.
   Ah, aqui estão meus óculos. Vou entrar no site da Agência de Viagens e comprar minha passagem para Natal.
 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 18/09/2013
Reeditado em 18/09/2013
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