O PONTO DO ABANDONO

O PONTO DO ABANDONO

Quer sentir o que é realmente uma sensação de abandono? Quer entender como é? Faça o seguinte: espere qualquer uma das linhas mais demoradas da cidade em qualquer local que passam vários outros ônibus. Você ficará esperando, de início confiante de que "bem, uma hora ele vem", enquanto todos os outros se vão sem esperar por você, com sorrisos felizes e expressões de satisfação por seus ônibus não demorarem muito. O deus ônibus está do lado deles, mas ele de abandonou. "Por que me abandonastes?", você pergunta, mas é interrompido em sua épica cena digna de Hollywood por aquele amigo que você encontra casualmente e fala "nossa, você ainda tá aqui a essa hora?". Pior: ele ainda vai embora antes de você, e surgem então outras sensações indescritíveis como a mistura sutil de cansaço e desolação extrema, mal estar pela fome, caso seja um horário de almoço, e vontade de bater em alguma coisa e "aquela coisa" que você não sabe o que é, mas que parece que vai descobrir (junto com a verdade sobre o universo) antes do seu ônibus aparecer. Enquanto isso, a vida, digo, as linhas te lotam de falsas esperanças e todos continuam indo, enquanto você fica. É uma experiência que muda vidas. É revolucionário. Abre seus olhos e lhe faz pensar coisas como "o que será que é mais efêmero: a vida ou a espera pelo ônibus? Qual será mais intenso? De onde eu vim? Pra onde vou? Será que realmente vou com essa demora toda pra meu ônibus chegar?". Esperar ônibus em condições extremas como essas é mais do que esperar ônibus. É um treinamento tenso, intenso e extenso pondo à prova cada átomo de paciência do seu corpo. Esse é o ponto. Já o ponto de ônibus, nessas condições, é o ponto do abandono.

Dija Darkdija

Dija Darkdija
Enviado por Dija Darkdija em 07/10/2013
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