PIMENTA-DEDO-DE-MOÇA
 
 
Tenho que confessar que mesmo com meus 52 anos de vida nunca tinha visto e nem provado de tal planta que dá o condimento conhecido pela maioria, notadamente pelo seu ardor e dor, se consumido em grande proporção. Estava eu no aeroporto de Fortaleza quando decidi almoçar, apesar do adiantado da hora, mas não dava para aguentar até à noite. Adentrei no restaurante e pedi uma indicação do atencioso garçom que me indicou um bife, aceitei na hora. Enquanto esperava, aproveitei para fazer algumas ligações de compromissos, informando a hora da chegada em São Paulo para a próxima reunião.
 
Após algum tempo o simpático garçom traz um bonito prato, bem decorado e com a famosa pimenta bem ao centro. Perguntei dele se era o que eu estava pensando, uma pimenta? Ele respondeu que sim, e me questionou se eu não conhecia? Respondi que não, por isso estava perguntando. Ele puxando conversa perguntou se eu não era da terra, pois eu parecia ser daquele lugar. Respondi para ele que era a primeira vez na vida que eu estava no Ceará, pois nunca havia estado naquele solo, mas que minha estada havia sido muito prazerosa, pois trabalhei e me diverti o que deu, foi marcante para minha vida.
 
Mas voltei ao assunto da pimenta, perguntei se ela era do tipo ardosa, se assemelhava com uma que provei na Escócia com minhas filhas, ainda relembro a Luciana tomando todos os refrigerantes e águas que estavam sobre a mesa, era uma verdadeira comida com pimenta indiana. O garçom respondeu que de fato ela ardia um pouco, mas era suportável, e passou a me receitar alguns pratos com o uso do referido condimento. Respondi pra ele que agradecia, mas não gostava de pimenta, mas iria levar aquela para plantar e oferecer aos amigos adeptos do sabor. Durante o tempo que fiquei no restaurante o garçom não saiu do meu lado, conquistei sua amizade com poucas palavras, ao final ele colocou a pimenta em um pequeno saco plástico para eu trazer.
 
Meu voo ainda iria demorar, mas ao fim da refeição fui para o setor de embarque e por lá fiquei. Com a pimenta na mão, dentro do pequeno envelope o que não faltou foram curiosos querendo saber o que era e por que eu estava levando. Talvez quisessem puxar conversa e a pimenta seria o início do diálogo, o que para mim foi bom, pois enquanto eu conversava a hora passava e eu nem percebia. Mas durante as conversas sobre a tal pimenta uma das pessoas me veio com a expressão popular que diz: “pimenta nos olhos dos outros é refresco”, disse esse senhor que seu ex amigo agia como tal, lhe deu todas as pancadas na vida e ao final dizia que não fizera por mal, mas que ele poderia reconstruir sua vida e seguir em frente.
 
Demos boas risadas juntos, ele me perguntou se eu estivesse no lugar dele como teria resolvido a questão? Respondi que de fato sou acostumado ao sofrimento, que não corro da responsabilidade, do enfrentamento, mas costumo dizer que sou recíproco, que sempre na hora certo dou o troco, porque não posso deixar o sabor da pimenta somente nos meus olhos, porque se assim não fizer aquele que te faz o mal fará com outro, e outro, e outro, ele precisa receber de volta para saber o quanto dói, dessa forma ele aprenderá ou viverá a vida inteira fazendo o mal, é o que penso.