VINICIUS DE MORAES, GESSY JESSE E NÓS

A atriz Gessy Jesse entrou na vida do poeta/cantor/compositor Vinicius de Moraes quando o ‘poetinha’ já chegava aos sessenta anos, apesar de parecer sempre ter menos idade do que realmente tinha.

Lembro-me bem que, quando o convidamos (eu e Carlos Napoli) em seu camarim, após um show no Teatro Castro Alves – para dar ‘uma chegada’ à casa do jurista Raul Chaves, cuja filha Ângela estava conosco, ele pensou, pensou, e disse-nos: “hoje até que dá porque não temos nada programado. Se fosse amanhã não poderia ser porque vamos ao ‘baile dos artistas’...”.

Não falarei dos detalhes deste nosso encontro, para não ser monótono. O certo é que, sem nos conhecer bem, o ‘poetinha’ aceitou nosso convite.

E lá fomos nós, em dois carros, levando Vinicius, Toquinho e Marília Medalha.

Na casa do Dr. Raul Chaves, após as apresentações, o anfitrião – professor da Faculdade de Direito da UFBa e jurista muito conceituado na Bahia, foi mostrar sua adega aos convidados. Lembro-me que Vinicius escolheu uma garrafa de whisky de 20 anos de envelhecimento, não recordo a marca. Quanto a Toquinho e Maria Medalha, não sei precisar se bebiam. Acho que não.

A filha do Dr. Raul, Jamile, fazia 15 anos e a festa estava na segunda metade quando chegamos.

Durante os comes e bebes, a pedido de Ângela cantamos algumas músicas, Eu, Napoli, Luiz Villas-Boas e Wilson Brandão com violão e leve percussão do ‘Bahia4’ nosso conjunto vocal que marcou época em Salvador e era presente constante na casa de Ângela. Os jovens e moças, bem como os demais

convidados, pararam para nos ouvir, enquanto Vinicius observava, sentado junto com os anfitriões, de frente para Toquinho e Medalha. Cantamos músicas de Caimmy, Assis Valente e algumas autorais do nosso repertório, a maioria sambas e toadas.

A festa ‘à caráter’, teve serviços de garçonetes vestidas com trajes típicos da Bahia e os petiscos eram da culinária baiana: acarajé e abará de entrada, e o prato principal - composto de vatapá, caruru, moqueca de peixe e camarão, entre outras iguarias...

Por oportuno, Ângela Chaves era colega de Carlos Napoli, na Faculdade de Direito e nos conhecemos no auditório da Reitoria, quando da realização do espetáculo “ASSIS VALENTE, UMBERTO PORTO, CAIMMY E A MÚSICA POPULAR DA BAHIA DOS ANOS SESSENTA” que produzimos e estrelamos sob o patrocínio do DSVU, dirigido por Roberto Kock, que anos após encontramos na direção da TV Bahia. Nesse espetáculo, a UFBa. Colocou à nossa disposição o maestro e arranjador ‘Perna’, o guitarrista Vevé Calazans. O flautista Tute, etc cujo sucesso ecoou por muito tempo.

Lá para as tantas, Vinicius pediu a Toquinho e a Marília Medalha para cantarem com ele e tivemos o prazer inusitado de estar ao lado dos grandes músicos da nossa MPB, dos quais sempre fomos fãs incondicionais desde os anos 1950, ouvindo-os de perto e conversando nos intervalos das canções.

Passamos uma noite muito alentada com presenças tão importantes, principalmente os artistas já citados e lá pelas quatro da madrugada, por iniciativa de Toquinho, Carlos Napoli tratou de levá-los ao Hotel da Bahia, onde estavam hospedados, enquanto nós fomos comer os quitutes oferecidos pelos anfitriões. Nós saímos da festa ao amanhecer e o Dr. Raul Chaves sempre nos cobria de gentilezas quando éramos convidados a participar de algum evento em sua casa. E nós tínhamos muito prazer nessa convivência deveras salutar.

Em 1985, nasceu o meu filho caçula, Vinicius, cujo nome é escusado explicar o porquê. Ele é advogado militante e amante da boa música.

Já contei essa história a quase todos os amigos que se interessam pela boa música, mas nunca havia pensado em fazer um texto exclusivamente sobre o assunto, talvez para não parecer algo utópico. Minha sobrinha Maria Ângela, que também estava presente nessa noite, à convite da sua homônima Ângela Chaves que estudava Direito e ensinava inglês, além de ser violonista, cantora e compositora, induziu-me a descrever o fato. Disse-lhe que o faria e estou cumprindo minha promessa.

O certo é que, nunca mais nos encontramos pessoalmente com Vinicius. Ele foi ao ‘baile dos artistas’ para ver Gessy Jesse por quem se apaixonara e dois anos depois já estava construindo uma casa próximo ao farol de Itapuã, em cujo local funciona um hotel, onde aconteceu a comemoração do seu centenário. Lá está preservada a pracinha com a estátua do poeta, onde tiramos algumas fotos. E posso dizer que a festa foi muito bonita, promovida por Gessy Jesse que me convidou pelo telefone, graças ao meu afilhado, cineasta Beto Magno.

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 01/06/2014
Reeditado em 06/07/2014
Código do texto: T4828070
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