A eterna ingenuidade
 
Estamos em pleno período eleitoral. Daqui a alguns dias conheceremos o novo governante do país que, segundo as últimas pesquisas, poderá continuar sendo a “velha” governante.
Não estou aqui para declarar minha preferência por este ou por aquela, nem para falar mal de nenhum dos dois. Estou, principalmente, para manifestar minha opinião sobre a campanha, tanto de um quanto da outra, e sobre o que realmente penso sobre o processo político.
Fala-se em mudanças: um diz que a mudança já começou; a outra diz que fará um governo novo, ou seja, que mudará muitas coisas que não deram certo. Entretanto, o que observo, é que nem ela nem ele, mudou sequer o modo de fazer campanha. Continuam com a mesma postura de todos os candidatos em todas as campanhas que já vi e vivi até aqui. Desde que me entendo por gente, ou seja, por eleitora, ouço sempre as mesmas coisas e vejo sempre a mesma estratégia: acusações mútuas. Nesta campanha não tem sido diferente: um tentando desmoralizar a outra, a outra tentando desmoralizar o um. E, nesse jogo bilateral de acusações e “xingamentos”, o eleitor confuso fica ainda mais perdido. Mas é o teatro eleitoral, onde cada um faz o seu papel com a maior dramaticidade possível, simulando, muitas vezes, um antagonismo que não existe. Quando as cortinas se fecham, os atores se confraternizam e se parabenizam pelo bom desempenho. E quando, de fato, há verdadeiramente posições totalmente opostas, os atores não têm o menor escrúpulo em jogar o adversário na lama. Pelo poder tudo é válido. Não deveria, mas é assim que funciona, e os marqueteiros sabem disso.
O pior de tudo não é ter de assistir a esta guerra indecente na disputa pelos milhões de votos do povo brasileiro. O pior é ser testemunha da insanidade que as pessoas são capazes de cometer aqui embaixo para defender cegamente um partido e o seu candidato. Discutem entre si como torcedores fanáticos de times de futebol. Tenho visto (principalmente nas redes sociais) e ouvido horrores: pessoas amigas de longa data desfazendo amizades, patrões pressionando empregados com ameaça de demissão caso não votem naquele que eles (os patrões) escolheram, professores induzindo alunos, enfim, as relações pessoais sendo machucadas ou destruídas por causa de falsas ideologias, por causa de interesses de forças que comandam o país pelos bastidores. Quem são essas forças? Ora, são os banqueiros, os grandes empresários, as grandes corporações, as grandes instituições – até religiosas -, e, claro, alguns governos estrangeiros. Um governo não se restringe a uma pessoa, à figura de um presidente ou a de um governador. Estes, apenas representam estas forças. E  as pessoas ficam se digladiando por acreditarem que os governos trabalham para elas e por elas. Infelizmente continuam acreditando. É a eterna ingenuidade do povo, especialmente da parcela mais pobre, que crê em promessas, em milagres, em mudanças. Nenhum governo atenderá cem por cento às demandas, às necessidades de um povo; nenhum governo cumprirá todas as suas plataformas, todos os compromissos assumidos em campanhas; nenhum governo investirá todos os recursos (obtidos principalmente por meio dos impostos pagos por este mesmo povo) em todos os setores necessários - sempre haverá setores mais favorecidos e outros menos favorecidos-; nenhum governo cumprirá todas as metas, até porque não se transforma um país em quatro anos (ou oito, caso haja reeleição); nenhum governo seguirá rigorosamente a Constituição porque, ao contrário do que se prega, os direitos das pessoas não são respeitados, se fossem, teríamos educação de qualidade, segurança, um sistema de saúde eficiente e tudo mais que a população espera; enfim, nenhum governo será perfeito como as pessoas anseiam. Isso é utopia. Isso não existe.
A história política do país sempre foi marcada por escândalos mesmo antes de a República surgir. Com a instauração da República as coisas foram piorando ainda mais. É um engano dizer que “nunca se roubou tanto neste país”, como tenho ouvido de algumas pessoas. Pois eu sou da opinião de que sempre se roubou, e muito. Existem algumas palavras ou expressões que sempre fizeram parte da prática política: corrupção, peculato, propina, improbidade administrativa, superfaturamento, tráfico de influências, nepotismo, desvio de verbas etc. E, infelizmente, continuarão a fazer. Até porque existe uma coisa chamada governabilidade, que só se torna possível quando os governos fazem alianças, acordos, troca de favores, nomeações, indicações, dão privilégios, oferecem cargos e uma lista imensa de benefícios, para que os “deixem governar em paz”.  O bolo é grande e gostoso, é lógico que cada um quer abocanhar a sua fatia.
Portanto, vença quem vencer no próximo dia vinte e seis, não esperemos grandes novidades. Talvez elas até aconteçam, mas, com certeza, não serão do agrado de todos. Sempre haverá um lado favorecido em detrimento de outro sofrido. Os pobres podem até conseguir algumas conquistas, mas nunca, jamais, a pobreza será extinta. A tão sonhada igualdade de oportunidades é pura ilusão.
Paraíso eu só conheço dois: um é o da Bíblia, onde eu espero chegar no dia do juízo final; o outro, ou os outros, são os Paraísos Fiscais, para onde vai nosso dinheiro - que deveria ser utilizado para a melhoria da qualidade de vida da população -, desviado para engordar as contas dos “queridos” governantes. Com raríssimas exceções, é claro.
Apesar de ainda acreditar que a política é necessária e que é o único meio de se promover o desenvolvimento de um país, já não me emociono e nem me convenço mais com os belos discursos. Caí na real. Cheguei à conclusão de que não adianta entrar na briga deles porque mesmo quem perder também será vencedor. No final, quem perde sempre somos nós.
Essa é a lógica do poder: muito para poucos e quase nada para muitos.   
          
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 19/10/2014
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