NOITES no TARRAFA e na ZUCCA

SÉRIE FIGURAS DA BAHIA

NOITES no TARRAFA e no ZUCCA

A fase pré turística vivida em Salvador nos deu oportunidade de conviver com grandes artistas baianos e de outros estados que vinham a Salvador realizar shows.

A Zucca Pizzaria ficava na Barra, próximo ao Farol da Barra, enquanto o Tarrafa localizava-se na Av. Joana Angélica, vizinho do Convento da Lapa, onde a sóror Joana Angélica foi morta pelos portugueses, na guerra de independência (1823), hoje funcionando a Faculdade Católica de Salvador.

Rubinho era o proprietário do Tarrafa e da Zucca Pizzaria, nosso amigo e admirador, desde antes, quando teve uma casa de móveis no Relógio de São Pedro, na Av. 7 de Setembro.

No Tarrafa, bar/restaurante intimista, freqüentava a classe média da Bahia. Alguns artistas faziam dali seu ponto de encontro. Entre estes, eu, Carlos Napoli, Carlos Lacerda, Guido Guerra, Antonio Carlos Sena, Edil Pacheco, entre outros. Ali tivemos a oportunidade de conhecer os grandes compositores Luiz Vieira, Sérgio Bittencourt, entre outros.

Nosso amigo e partícipe de longos papos noturnos, Carlos Lacerda era o grande pianista da Bahia, contratado pela TV Itapoan, figura obrigatória nos grandes espetáculos musicais, numa época em que a música acústica reinava. A eletrônica não havia entrado no mercado ainda, apesar de vir ensaiando os primeiros passos...

Carlos Lacerda gravou um LP vinil "O Governador do Piano" pois o seu homônimo, jornalista carioca, era figura de proa na política, responsavel pela queda e suicídio do presidente Getúlio Vargas. Êle era um grande amigo. Bom músico, simples, humilde, era um profissional da música, muito festejado pela sociedade da Bahia. Teve uma grande paixão pela artista conquistense Ilma Gusmão, em cuja homenagem compôs A Jiboeira, uma vez que Ilma havia nascido em Vitória da Conquista e sua família é oriunda da Jibóia, na zona rural.

Ali no Tarrafa tivemos grandes noitadas e fazíamos apresentações musicais nos almoços dos sábados, quando o restaurante reunia uma bela freguesia que gostava de comer e beber bem, ao som de boa música. A esta época, tínhamos um quarteto o “Bahia 4”: Eu, Carlos Napoli, Luiz Villas Boas e Wilson Brandão. No repertório, músicas do cancioneiro brasileiro, algumas de Adoniran Barbosa, de Caimmy, de Chico, Caetano, Dolores Duran, Tom e Vinicius... Grupo jovem e harmonioso que agradava aos gostos da época.

Fora das apresentações que nos davam um cachê, o Tarrafa foi nosso ponto de encontro quase que diário. Ali ficávamos até as 23, 23:30, para irmos dormir em casa, quando não saíamos com alguma namorada.

A Zucca Pizzaria era nosso habitat às sextas-feiras. Normalmente fazíamos uma mesa grande e vários freqüentadores se nos acercavam para participarem do musical que rompia madrugada, chegando muitas vezes ao amanhecer. O Rubinho pedia para que ficássemos e saía para providenciar camarão fresco. Mandava fazer uma grande moqueca e íamos para casa dia claro após aquele lauto jantar, às seis horas da manhã...

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 18/09/2005
Reeditado em 19/09/2005
Código do texto: T51546
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