Quem é ele? Você sabe?

Já faz algum tempo que eu comecei a escrever uma história imaginária. Eu senti a necessidade de criar um personagem que apresentasse as mais variadas e divergentes características. Se você se lembra, eu já apresentei três modos diferentes, em uma mesma crônica, de enxergar esse personagem que eu criei. São interpretações que eu imagino que as pessoas façam. Hoje, eu lhe apresento outra versão desse homem imaginário. Da primeira vez, eu mostrei uma visão romântica que alguém tem sobre ele; uma visão dos críticos e outra de alguém que, a meu ver, interpretou esse homem de modo racional. É o pouco que posso dizer.

Deixo bem claro: esse indivíduo é fruto da minha imaginação. Ele não existe. Alguém não pode existir com características tão diversas. Hoje, ao conversar com uma das primeiras professoras dele, eu fiquei emocionado com um pouco da história. Segundo essa ex-professora, ele “sempre foi um menino bom; como um deus para a sua mãe; nunca deu preocupação à mãe dele; sempre se mostrou dedicado aos estudos”. Essa ex-professora ainda confessou falar muito a respeito desse “menino” para o neto dela. Foi muito bom escutar essa professora imaginária relatando o comportamento desse homem imaginário, chamado por ela de “bom menino”.

Outro dia, esse personagem, a seu respeito, escutava de alguém: “O... já é bom demais; já é calmo demais...” Isso no ambiente de trabalho. Para outras pessoas, porém, ele é “zangado”.

Eu fico me perguntando como alguém consegue ser visto de maneiras tão diferentes e contraditórias. Sim, maneiras diferentes e contraditórias. Para certas pessoas, ele é “arrogante”, “prepotente”, “autossuficiente”, “egoísta”. Outras pessoas, socialmente humildes, o veem como “um menino bom”; um “homem humilde, simples” e cujo comportamento deve ser imitado; isso segundo certas pessoas.

Talvez a psicologia esteja certa: as pessoas veem nas outras pessoas aquilo que se encontra em si mesmas. Ou talvez esse personagem tenha aprendido a se comportar e a agir e reagir conforme os diferentes tipos de pessoas. Diante dos humildes, ele se faz um deles, sem se considerar melhor do que eles, nem sabendo nada mais importante do que os humildes sabem. Ele aprendeu a escutar os humildes e a ter admiração por eles. Todavia, diante de pessoas que desejam mostrar superioridade, ele reage de maneira muito diferente, porque a vida lhe ensinou a combater a insensatez, o sentimento de superioridade etc. Talvez seja isso. Ele já teve provas disso. Certa vez, em certa reunião, longe de casa, ele falava de maneira simples, mas havia duas pessoas que não lhe davam a mínima importância. Ele percebeu isso imediatamente. Quando foi à noite desse dia, esse personagem, por ter sido incumbido, fez uma reflexão sobre certo assunto religioso ao microfone para uma multidão. No dia seguinte, as duas pessoas que não lhe davam a mínima importância saíram divulgando que não imaginavam que “ele fosse tudo aquilo que mostrou ao microfone; ficaram surpresas”. Uma delas disse que observou cada palavra pronunciada por ele, e não encontrou um erro sequer, nem de português, na sua fala. Os elogios não foram economizados. Talvez essa seja uma prova de que não se pode ser humilde diante de toda pessoa. Há pessoas que não estão preparadas para ser tratadas com humildade. É melhor a exibição ou o confronto, em certos momentos.

Eu criei esse personagem para imaginar como poderia existir alguém com características tão diversas.

Quem é ele? Você sabe? Eu não sei!

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 04/05/2015
Código do texto: T5230213
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