MEUS NOVOS ALUNOS

O que faz alguém ser um bom professor? O que faz alguém ser bom aluno? O que um professor deve fazer para conquistar a simpatia de uma turma de jovens logo no primeiro dia de aula? Não pretendo responder a essas perguntas. Além disso, eu não tenho respostas para esses questionamentos. Quem as tem? O que eu quero é falar sobre outro assunto. Quero falar a respeito dos meus novos alunos: alunos no estado do Piauí, da Unidade Escolar Cícero Coelho, uma escola estadual, em Uruçuí.

Deixo bem claro: eu jamais falarei sobre dificuldades que eu vivencio com alunos em sala de aula. Eu jamais farei exposição pública de problemas do meu ambiente de trabalho. A ética é fundamental em um ser humano. Problemas de trabalho devem ser resolvidos nesse ambiente, e não em público. As dificuldades fazem parte da vida. Da mesma forma, eu não falo sobre a minha vida familiar. Mas, o que eu quero dizer? Vejamos!

Eu já fui professor de Inglês e Português nos três anos do Ensino Médio. Trabalhei com Língua Portuguesa no Ensino Fundamental Maior. Já dei aula de Biologia. Já fui professor de Matemática, no Ensino Fundamental Maior e 1º e 2º anos do Ensino Médio, além de Ciências na 8ª série. Sou apaixonado por Filosofia, Português e Matemática. Tenho formação filosófica. Reconheço-me um estudioso da Língua Portuguesa. Estudo e pesquiso todos os dias. Em Pastos Bons, eu tive alunos inesquecíveis. Tenho um grande amor pela Escola José Neiva. Já trabalhei, por mais de um ano, como concursado, a 164 quilômetros da minha casa; eu ia de moto. Moro em Pastos Bons; trabalhava pelo município de Uruçuí, em um povoado chamado Tucuns. Saí em virtude da distância e por ter sido aprovado em um concurso perto de casa. Agora, eu trabalho com Filosofia pelo município de São João dos Patos/ MA, Ensino Fundamental Maior; sou concursado. Em 2014, eu fui aprovado no estado do Piauí. Hoje, dia 25 de maio de 2015, foi o meu primeiro dia de trabalho por esse estado. Sou professor de Português no 2º ano do Ensino Médio, três turmas.

O elogio que farei agora não diminui os meus ex-alunos, nem os atuais. Não diminui os outros alunos da mesma escola, nem aqueles que se encontram no Maranhão. O que eu desejo é expressar o meu agradecimento aos estudantes do 2º ano do Ensino Médio (turma A), Matutino, da Unidade Escolar Cícero Coelho. Hoje, eles me resgataram. Resgataram a minha autoestima. Por quê? Eu disse em sala de aula que eles me deram o que eu desejava receber há muito tempo. Após a nossa apresentação, eu pedi que cada um expusesse suas dúvidas em relação à Língua Portuguesa. Eu convidei a turma a expressar suas dificuldades gramaticais ou ortográficas. Disse que todos podiam fazer as perguntas que quisessem, que eu responderia; estava lá para responder. Os alunos começaram então a me fazer várias perguntas. Antes do término da explicação de uma, vinha outro, ou o mesmo aluno, com outra pergunta ou dúvida. Durante 100 minutos de aula, foram abordados vários assuntos: “crase”, “mal” e “mau”, “demais” (junto) e “de mais” (separado), “bom-dia”, “boa-tarde”, “boa-noite”, “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”, “dois-pontos”, “o uso da vírgula”, “etc.”, “porquês”. Sobre crase, eu tive que consultar uma das minhas gramáticas. Nem tive tempo de fazer o que planejei. Na verdade, a minha aula foi muito melhor do que eu havia planejado. O ambiente e o momento me levaram a me reconhecer novamente como professor.

Eu lhes disse que eu me sinto muito bem quando sou questionado, quando a turma expõe suas dúvidas, principalmente eles, que estão quase concluindo o Ensino Médio e vão fazer o Enem. Eu não gosto de uma aula quando eu fico falando sozinho, e ninguém diz nada. Eu me sinto muito mal numa turma que não tem dúvidas. Quem não tem dúvidas não sabe de nada. Só quem sabe tem dúvidas. Só quem sabe faz perguntas. Quem não faz perguntas não sabe. Disse-lhes que bom-dia, boa-tarde e boa-noite (com hífen) são formas de cumprimentar alguém. Quando alguém cumprimenta outro, essas palavras têm hífen. Quando alguém expressa um desejo de manhã, tarde e noite agradáveis, não existe hífen nessas palavras.

Eu não sei como será a minha relação com meus alunos. Ninguém sabe nada a respeito do futuro. O que eu sei é que eles me deram uma oportunidade única. O dia a dia de sala de aula não é dinâmico. As aulas, muitas vezes, se tornam chatas. Faz parte da rotina. Não podemos improvisar sempre, nem ser sempre dinâmicos ou divertidos. Mas a simpatia foi recíproca. Eu gostei deles, e eles gostaram de mim.

O leitor observa que eu sou muito mais emotivo do que muitas pessoas imaginam. Eu me apego muito rápido às pessoas. Eu gosto de me relacionar bem. Uso muito mais o coração do que alguns percebem. É claro que os conflitos são inevitáveis. A Sociologia mostra isso. As relações não são feitas apenas de harmonia, mas podemos buscar uma vida harmoniosa.

Parabenizo os alunos do 2º ano do Ensino Médio, turno Matutino, da Unidade Escolar Cícero Coelho. Muito obrigado! Que a nossa convivência seja fortalecida pelo respeito, compromisso e amizade. Eu não gosto de ser apenas professor; o meu ideal é ser também amigo dos meus alunos. Fiquei muito mais contente por ter encontrado nessa escola duas pessoas que foram minhas alunas quando eu ensinava nos Tucuns, povoado de Uruçuí. Este mundo é muito pequeno mesmo e muito bom!

Já tenho até alguns dos novos alunos na qualidade de amigos no Facebook. Sejam bem-vindos! Amanhã, estaremos novamente em sala de aula. Um abraço.

Uma pergunta: será que os exigentes se atraem? Parece-me que sim (rsrs).

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 25/05/2015
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