Recordação
Eu digo a mesma coisa sobre mim: "O Tempo passou, muita coisa mudou, eu mudei.... Minha essência ainda é a mesma". (Claudia Gomes)
Interessante: eu cheguei do trabalho pensando em escrever um poema sobre as mudanças por que passei. Encontrei esse pensamento que traduz o que eu queria dizer. Fiquei pensando a respeito dos ambientes pelos quais passei: a minha experiência numa igreja, a Pastoral da Juventude, o meu programa de rádio (abordando todos os assuntos sociais), o outro programa de rádio (religioso), entre outras experiências, inclusive do menino sonhador: aquele que caminhava vários quilômetros para encontrar água e levar para casa, para estudar, para encontrar literatura de cordel; aquele menino apaixonado pelo conhecimento; sua mãe comprava lápis e caderno para que ele ficasse rabiscando; aquele menino que se metia no mato para colher pequi, bacuri; aquele menino que, quando não encontrava o jumento, voltava imediatamente para casa para ir buscar água (a uma grande distância de casa) no ombro; aquele menino que ia buscar banana muito longe de casa para sua mãe revender; aquele adolescente que não ficava uma só tarde sem jogar futebol, sem jogar bola; amava jogar; aquele garoto que jogava sinuca e que se considerava bom no que fazia (não era brincando, era dinheiro envolvido); poucos se arriscavam a jogar com ele; porém, a partir do dia em que perdeu até o relógio, nunca mais jogou sinuca. Ele e seu adversário jogavam empatados; ninguém vencia; foram ver quem era o melhor com apenas uma mão cada um dos jogadores. O garoto perdeu; nunca mais jogou. Um garoto que sabe o que quer; que não repete o mesmo erro; que aprende com a vida, com os fatos; que busca o que não se pode ver, nem tocar.
Os meus valores permaneceram. Na verdade, eu estou indo ao encontro dos meus autênticos valores; indo ao encontro de mim mesmo. A minha fé não mudou; não perdi a confiança em Deus; só deixei de exercer os rituais que eu exercia. Não faço parte de grupo religioso, mas sou teísta; a minha fé aumentou. Eu não sou a causa de mim mesmo. Eu creio num Ser Superior e Bom; eu chamo esse Ser de Deus. Concordo com Gandhi: “O homem pode repelir a palavra de Deus, mas não pode impedir que Deus exista”. (Mahatma Gandhi: o apóstolo da não-violência, p. 183)
Eu gostaria de fazer um poema que traduzisse toda a minha gratidão a Deus e à vida, mas eu tenho que viver; a escrita não é a vida; é apenas uma forma de expressar a vida, de expressar o meu ser e de falar sobre o que a minha inteligência alcança. O meu agradecimento a Deus e à vida se realiza mediante a minha vida. Contemplo este mundo criado por Deus. Contemplo a existência terráquea. Sou verdadeiramente apaixonado pela vida. Sou um homem feliz, muito feliz!
O homem precisa ir ao encontro de si mesmo. Muitos homens não se buscam. Eu, porém, gosto de ir ao encontro de quem eu sou. Agostinho dizia: “Não queiras ir lá fora. Volta-te para ti: no interior do homem mora a verdade”. Segundo Agostinho, a verdade é Deus, que está dentro do homem. Sócrates dizia: “Conhece-te a ti mesmo!”