Músicos Poetas ou Poetas Músicos?

Musicas de boa qualidade sempre têm por traz, além de uma grande melodia e uma ótima letra, músicos e musicistas com uma grande capacidade de interpretação e composição.

Quantas letras lindas já nos deparamos, e percebemos desde o começo, ser um grande trabalho, uma poesia musical.

Agora a dúvida. Músicos podem ser poetas? E poetas, podem ser músicos?

Sem sombra de dúvida a primeira questão esta respondida. Grandes músicos podem ser sim grandes poetas, e existem provas espalhadas por este mundo a fora.

Compositores famosos como Cazuza, Raul Seixas, Renato Russo, Jim Morrison e John Lennon, entre outros, são alguns exemplos clássicos.

Jim Morrison era um homem com personalidade forte, além disso, muito enigmático, culto e inteligente. Explosivo e exagerado ás vezes, mas com um grande dom de lidar com as palavras e com sua voz. Suas apresentações eram teatrais, seu corpo fazia movimentos aleatórios e diferentes, mais um sinal da ARTE em suas veias.

Essas características são de um grande poeta e gênio musical, carregando com sigo, elementos básicos e intermediários de um grande artista, pela palavra completa.

E com essas características principais para ser um poeta musical, os brasileiros, Cazuza, Raul e Renato obtinham o mesmo gênio. Claro, com algumas alterações, mas sempre com a mesma personalidade... Difícil!

Muitos poetas podem ser músicos também. Um exemplo é o próprio Jim Morrison que já escrevia em seus cadernos, várias poesias e pensamentos conturbadores, de amor, ocultismo entre outros temas. Nada como o próprio Jim explicar: "Inicialmente eu não tinha a intenção de fazer parte de uma banda. Queria fazer filmes, escrever peças, livros. Quando me vi numa banda, quis trazer algumas dessas idéias dentro disso".

Renato Russo gostava muito de ler e obviamente com o treino do mesmo, obteve um grande acervo de palavras e vocabulário volumoso, usou seu grande dom como musico e escritor, e as transformou em musica, poemas para os ouvidos, para as notas musicais.

Entender as letras de Jim Morrison seria um pouco mais abstruso, mas as grandes letras dos nossos poetas (nacionais) são de fácil compreensão. Quem não conhece: “Pais e Filhos”, “Teatro dos Vampiros”, “Mais uma vez”, “Há Tempos”, “Que pais é esse?”, “Tente Outra Vez”, “ Por que os sinos dobram”, “Você ainda pode sonhar”, “O tempo não pára”, “Brasil”, “Codinome beija-flor”, “Ideologia”, “Todo amor que houver nessa vida” entre muitas outras?

Já Jim Morrison, sempre interessado pelo desconhecido, oculto, escreveu poemas bastante confusos e ao mesmo tempo profundos.

Obcecado pela morte, o tema era sempre tratado em suas letras, principalmente em “The End”. Uma grande referência para observar melhor estes detalhes é assistindo o filme de Oliver Stone, intitulado The Doors (um dos melhores filmes que já assisti inclusive).

Outra passagem interessante é onde Morrison descreve sobre a morte: “A primeira vez que descobri a morte… Eu, os meus pais e os meus avós, íamos de automóvel no meio do deserto ao amanhecer. Um caminhão carregado de índios, tinha chocado com outra viatura e havia índios espalhados por toda a auto-estrada sangrando. Eu era apenas um miúdo e fui obrigado a ficar dentro do automóvel enquanto os meus pais foram ver o que se passava. Não consegui ver nada – para mim era apenas tinta vermelha esquisita e pessoas deitadas no chão, mas sentia que alguma coisa se tinha passado, porque conseguia perceber a vibração das pessoas à minha volta, então de repente apercebi-me que elas não sabiam mais do que sobre o que tinha acontecido. Esta foi a primeira vez que senti medo... e eu penso que nessa altura as almas daqueles índios mortos – talvez de um ou dois deles – andavam a correr e aos pulos e vieram parar à minha alma, e eu apenas como uma esponja, ali sentado a absorvê-las”.

Infelizmente os nossos poetas aqui citados estão todos mortos. Mas suas obras, suas poesias estão eternizadas em nossas almas.

Espero que apareçam novos poetas para este novo século, esta nova década, o mundo perdeu grandes nomes e precisamos de lendas vivas para apreciá-los.

A musica precisa de letras mais elaboradas e profundas, e as grandes poesias, precisam de melodias para eternizá-las.

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Publicado originalmente no dia: 10 de Outubro de 2006, em minha coluna musical, no web site: www.guiaassis.com.br, e posteriormente modificado para publicação neste.